domingo, 4 de novembro de 2012

Um estudo de caso: a relação entre crime e etnia!


Virgindade de meninas índias vale R$ 20 no Amazonas


No município amazonense de São Gabriel da Cachoeira, na fronteira do Brasil com a Colômbia, um homem branco compra a virgindade de uma menina indígena com aparelho de celular, R$ 20, peça de roupa de marca e até com uma caixa de bombons.

A pedido das mães das vítimas, a Polícia Civil apura o caso há um ano. No entanto, como nenhum suspeito foi preso até agora, a Polícia Federal entrou na investigação no mês passado.
Doze meninas já prestaram depoimento. Elas relataram aos policiais que foram exploradas sexualmente e indicaram nove homens como os autores do crime.
Entre eles há empresários do comércio local, um ex-vereador, dois militares do Exército e um motorista.
As vítimas são garotas das etnias tariana, uanana, tucano e baré que vivem na periferia de São Gabriel da Cachoeira, que tem 90% da população (cerca de 38 mil pessoas) formada por índios.
Entre as meninas exploradas, há as que foram ameaçadas pelos suspeitos. Algumas foram obrigadas a se mudar para casas de familiares, na esperança de ficarem seguras.

Folha conversou com cinco dessas meninas e, para cada uma delas, criou iniciais fictícias para dificultar a identificação na cidade.
M., de 12 anos, conta que "vendeu" a virgindade para um ex-vereador. O acerto, afirma a menina, ocorreu por meio de uma prima dela, que também é adolescente. "Ele me levou para o quarto e tirou minha roupa. Foi a primeira vez, fiquei triste."
A menina conta que o homem é casado e tem filhos. "Ele me deu R$ 20 e disse para eu não contar a ninguém."
P., de 14 anos, afirma que esteve duas vezes com um comerciante. "Ele me obrigou. Depois me deu um celular."
Já L., de 12 anos, diz que ela e outras meninas ganharam chocolates, dinheiro e roupas de marca em troca da virgindade. "Na primeira vez fui obrigada, ele me deu R$ 30 e uma caixa com chocolates."

DEZ ANOS
Outra garota, X., de 15 anos, disse que presenciou encontros de sete homens com meninas de até dez anos.
"Eu vi meninas passando aquela situação, ficando com as coxas doloridas. Eles sempre dão dinheiro em troca disso [da virgindade]."
P. aceitou depor na PF porque recebeu ameaças de um dos suspeitos. "Ele falou que, se continuasse denunciando, eu iria junto com ele para a cadeia. Estou com medo, ele fez isso com muitas meninas menores", afirma.
Familiares e conselheiros tutelares que defendem as adolescentes também são ameaçados. "Eles avisaram: se abrirem a boca a gente vai mandar matar", diz a mãe de uma menina de 12 anos.

Fonte: Folha de São Paulo, disponível no link http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/1179864-virgindade-de-meninas-indias-vale-r-20-no-amazonas.shtml



3 comentários:

  1. Eu estou lendo um texto para uma outra disciplina que fala sobre isso, sobre quando certo grupo não tem mais a proteção das instituições públicas. Mas o texto vai além, e diz que estes grupos recorrem para outros, buscando uma lealdade... e assim se desenvolvem as "subculturas" que desenvolvem seus códigos de valores e de comportamentos próprios, cada vez mais alheios aos códigos da sociedade mais ampla.
    Se a polícia não pode proteger essas meninas e essas famílias, para quem elas vão recorrer?

    Kim

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  2. Não entendi muito bem o que você quis dizer sobre o texto, mas me pergunto sobre essa questão da proteção de instituições públicas.
    Sabemos que não só a venda da virgindade, mas a de drogas, a de arma etc, são muito frequentes em áreas denominadas indígenas e interioranas no Brasil e no mundo.

    O problema é que esse choque de poderes que se passa na vida longe das cidades é tratado de uma forma que consideramos muito mais violenta. E realmente o trato sobre o direito à vida de uma menina indígena é diferente do de uma menina branca e de classe média de São Paulo.

    No Brasil representantes de diferentes instâncias, que são encarregadas de proteger acabam por fazer exatamente o contrário em lugares mais longínquos das metrópoles urbanas. Mas será que o estupro ou a prática sexual com menores ocorre somente nesses lugares? Me intriga o tratamento das leis que alcançam essas práticas de venda e as questões da vida no interior no Brasil.

    O próprio indígena ou o cidadão interiorano é visto como vítima nessas reportagens. Todos são vítimas em grande parte das reportagens.

    Gostaria de ler uma reportagem que discuta de maneira mais profunda como ocorre a eleição nesses territórios; ou quais as falhas administrativas que levam a lei a não ser efetivada; ou o quanto das demandas do interior, que também possui uma cultura própria, estão sendo levadas em conta na produção de leis. O que vem a ser crime para essas pessoas? Será que a nossa noção de crime deve ser estendida de forma a englobar todos os tipos de comunidade no Brasil?

    Claro que há uma trama de forças dentro do nosso sistema político, que tem tudo haver com a forma de como essas reportagens são produzidas. Contudo, neste blog não podemos trocar figurinha de como funcionam essas leis na prática? ou de como é a vida fora dos nossos centros urbanos?

    Jéssica.

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  3. Só quis exemplificar com a reportagem o entendimento inferiorizado de certas etnias e grupos sociais. Lógico que nas grandes cidades, meninas, brancas e "faveladas" também são tidas inferiores, percebe?

    Nesse caso específico, tb quis exemplificar a ação do Estado nessas regiões. E, no meu entender, se o território é brasileiro, a legislação brasileira deve-se fazer valer (ao menos na teoria!), Naturalmente, e essa talvez não seja a palavra mais adequada, a impunidade e o medo serão ameaças constantes para essas pessoas, e para todos os grupos/ pessoas que não meios para combater o sistema!

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