segunda-feira, 9 de junho de 2014

Quando estamos invisíveis

Famílias expulsas de prédio da Telerj vivem improvisadas em igreja no Rio

Atualizado em  6 de junho, 2014 - 07:16 (Brasília) 10:16 GMT
Remoção de famílias da Favela Telerj (Reuters)
Em abril, policiais removeram com truculência as famílias de prédio no bairro do Engenho Novo
A uma semana do início da Copa do Mundo, cerca de 300 pessoas que em março deste ano haviam ocupado o terreno que ficou conhecido como Favela da Telerj, no Rio de Janeiro, ainda estão abrigadas de forma precária no ginásio de uma igreja a cerca de um quilômetro do Aeroporto Internacional Tom Jobim, por onde a maioria dos turistas que vem para o Mundial deve chegar à cidade.
Integrantes do grupo, que alegam terem sido vítimas do aumento do valor dos aluguéis na cidade no período de preparação para a Copa, participaram de um protesto que bloqueou o acesso ao aeroporto no dia em que a seleção brasileira se apresentou no Rio, na semana passada.
Eles são remanescentes das mais de 5 mil pessoas que invadiram, ainda em março, um prédio no bairro do Engenho Novo, na Zona Norte do Rio, que pertence à antiga empresa de telecomunicações do Estado do Rio de Janeiro (Telerj).
O caso ganhou repercussão internacional semanas depois, no dia 11 de abril, quando cerca de 80 militares e 1.650 policiais removeram com truculência as famílias de dentro do local.
Muitos tiveram que sair sem documentos, houve feridos e as imagens dos confrontos rodaram o mundo.

Resistência

Em depoimento à BBC Brasil, Carlos Alessandro de Souza diz que vivia na comunidade Jacarezinho, e que teve que deixar a casa onde vivia com a mulher e os cinco filhos, porque a dona do imóvel decidiu alugar para outra pessoa a um preço mais elevado.
"Devido ao aumento de aluguel com as ocupações de UPP nas comunidades, eu não tive outra opção".
O filho mais novo, Carlinhos, tinha apenas um mês quando a família ficou sabendo da ocupação da Telerj e decidiu juntar-se ao grupo.
"Fui para lá, assim como milhares de outras pessoas na mesma situação. Quando a gente tinha conseguido se instalar, com um gato para a energia elétrica, veio a polícia e nos tirou de lá com muita paulada. Meus companheiros fizeram uma rodinha em torno de mim para que eu saísse com o bebê no colo, embaixo de bombas de gás e spray de pimenta", relembra.
Desde então muitos foram buscar abrigo em casas de parentes ou ficaram sem moradia, mas o grupo que está na igreja vem resistindo.
Eles já estiveram acampados diante da Prefeitura, e em frente à Catedral Metropolitana do Rio, de onde receberam a oferta da Arquidiocese do Rio de Janeiro para que fossem ao ginásio da paróquia na Ilha do Governador.
O grupo reivindica que o governo municipal providencie uma casa para cada família, mas a Prefeitura diz que a situação não é tão simples e que há outras famílias que já aguardam moradia.
Consultado pela BBC Brasil, o governo municipal confirmou as declarações recentes do prefeito Eduardo Paes sobre a compra do prédio da antiga Telerj.
"A Prefeitura do Rio está adquirindo a área onde funcionava um almoxarifado da empresa Oi, no Engenho Novo, onde construirá o Bairro Carioca 2, por meio do Programa Minha Casa, Minha Vida, em parceria com o Governo Federal, que terá 1.300 apartamentos", disse a Secretaria Municipal de Habitação.
Tudo indica, no entanto, que os apartamentos devem ser destinados aos que já aguardam na fila do programa federal, e não aos desalojados que aguardam na igreja Nossa Senhora do Loreto.
Há uma fila de espera e sorteio para o programa federal Minha Casa Minha Vida, na qual os integrantes do grupo já teriam sido cadastrados. Além disso teriam sido ofertadas vagas em abrigos da Prefeitura, rejeitadas pelas famílias.
Segundo a Prefeitura, não há possibilidade de solução imediata.

Remoções e déficit habitacional

A situação com os ex-ocupantes do prédio da Telerj é símbolo do que, segundos os desalojados, tem sido o reflexo do Mundial para os mais pobres.
Eles argumentam que além de elevar os preços dos aluguéis devido à especulação imobiliária, os preparativos para a Copa retiraram milhares de suas casas, com as remoções e reassentamentos para obras relacionadas ao torneio – tanto negociadas quanto forçadas.
O grupo de 300 pessoas que vive atualmente na paróquia Nossa Senhora do Loreto, na Ilha do Governador, é apenas uma pequena amostra de um universo muito maior.
Consultada pela BBC Brasil, a Prefeitura do Rio diz que entre janeiro de 2009 e 17 de maio de 2014, já houve o reassentamento de 21.259 famílias.
O número é interpretado de formas diferentes. Para a Secretaria Municipal de Habitação, 19.319 famílias tiveram que abandonar suas casas por viverem em situações classificadas como alto risco e apenas 1.940 famílias foram reassentadas em função de obras.
O governo municipal diz que desse total, 10.280 famílias (52%) receberam imóveis do programa federal Minha Casa, Minha Vida, 30% receberam indenização e 18% estão recebendo aluguel social – um auxílio no valor de R$ 400 ou R$ 500 que pode ser concedido por um período máximo de 12 meses.
Um estudo recente divulgado pela Fundação João Pinheiro revelou que o deficit habitacional cresceu 10% entre 2011 e 2012 nas nove metrópoles monitoradas pelo IBGE, perfazendo um total de 1,8 milhão de famílias sem residência adequada nessas regiões.
No Rio de Janeiro, o instituto calculou que em 2011 havia 299.649 famílias sem moradia adequada, e em 2012 havia 331.260, uma elevação de 10,5%.
De acordo com o Instituto Pereiro Passos, atualmente há um déficit de 148 mil casas na capital fluminense.



Apesar de tão perto de um lugar com visibilidade na copa, eles estão invisíveis ao olhos de todos. Não ouvimos mais falar sobre, e olha que teve repercussão. Imagina se não tivesse tido...
Poucas pessoas passam por ali, apenas moradores, como eu, ou pessoas de passagem para desviar caminho do engarrafamento pela manhã na Est. do Galeão. 
Há pouco tempo eles colocaram faixas com dizeres "Os moradores da Telerj resistem", e cada dia que passo lá durante meus percurso penso "É, eles resistem!".

*alguns termos caberiam mais no lugar de outros, como ocupado no lugar de invadido.

quinta-feira, 5 de junho de 2014

Racismo Velado do Brasileiro

Eu fiz o trabalho e o artigo sobre preconceito racial, é um tema muito amplo e interessante.
Achei esse documentário muito bom e relevante para a disciplina.

Documentário:  Open Arms, Closed Doors 


É o ponto de vista de um angolano que veio morar no Brasil e fala como o nosso pais é muito racista, porém é um racismo velado.

Beijo

Anna Carolina Pinto Machado

quarta-feira, 4 de junho de 2014

Condenado por atear fogo em índio passa em concurso da polícia no DF

Um dos cinco jovens condenados por participar do assassinato do índio Galdino Jesus dos Santos, queimado vivo enquanto dormia em uma parada de ônibus em Brasília, em 1997, foi aprovado na última fase do concurso da Polícia Civil. O resultado final, com avaliação da vida pregressa dos candidatos, será publicado no Diário Oficial do DF nos próximos dias.
G.N.A.J. tinha 16 anos quando participou do crime. Na época, ele foi encaminhado para um centro de reabilitação juvenil, condenado a cumprir um ano de medidas socioeducativas, mas passou apenas três meses internado. Agora, com 34 anos, ele foi aprovado nas provas objetiva, física, médica, psicológica, e toxicológica do concurso da Polícia Civil. O salário é de R$ 7,5 mil.
Segundo o edital do concurso, realizado pelo Centro de Seleção e de Promoção de Eventos da Universidade de Brasília  (Cespe/UnB), a sindicância da vida pregressa e investigação social tem caráter eliminatório e avalia a idoneidade moral do candidato no âmbito social, administrativo, civil e criminal.
O requisito, “indispensável para aprovação” no concurso, segundo o edital, é avaliado por uma comissão formada pela direção da Polícia Civil. O edital diz que os candidatos devem apresentar antecedentes criminais da Justiça Federal, do DF, da Justiça Militar e Eleitoral, da Polícia Federal e Civil da cidade onde residiu nos últimos cinco anos" e também certidões de cartórios de protestos de títulos e de interdição e de tutelas.
A Polícia Civil informou ao G1 que o candidato ainda não foi aprovado no edital de vida pregressa e, portanto, não foi aceito no concurso. O Ministério Público afirmou que só atua em casos onde há ilegalidades e que fiscaliza apenas pessoas quando estão em cumprimento de penas.
Para o professor de administração pública José Matias-Pereira, da UnB, apesar de ter sido condenado, G.N.A.J. já cumpriu a pena e, legalmente, não há impedimento para que ele assuma o cargo de policial civil.
“O que se pode questionar é o aspecto moral – porque se tem uma questão de ética e uma questão moral. No caso, seria a pena moral que a sociedade aplicou pelo seu comportamento. A sociedade entende que moralmente o comportamento dele não é compatível com o cargo público que envolve, digamos assim, questões relacionadas à segurança pública e à própria violência”, diz.
“Se houver algum tipo de posição contrária da banca, no entanto, certamente ele vai entrar com uma ação na Justiça e vai ganhar. Do ponto de vista de dever algo para a sociedade ele não deve mais. A única coisa hoje que prende ele nessa questão toda é a do aspecto moral, da atitude que ele tomou num determinado momento da vida dele.”

O que se pode questionar é o aspecto moral – porque se tem uma questão de ética e uma questão moral. No caso, seria a pena moral que a sociedade aplicou pelo seu comportamento. A sociedade entende que moralmente o comportamento dele não é compatível com o cargo público que envolve, digamos assim, questões relacionadas à segurança pública e à própria violência. (...) Do ponto de vista de dever algo para a sociedade ele não deve mais."

José Matias-Pereira, professor de administração pública
Crime
Em 20 de abril de 1997, cinco rapazes de classe média de Brasília atearam fogo no índio pataxó Galdino Jesus dos Santos, de 44 anos, que dormia em uma para de ônibus na Asa Sul, bairro nobre da capital federal. Após o crime, eles fugiram.
Um homem que passava pelo local anotou o numero da placa do carro dos jovens e entregou à polícia. Horas depois, Galdino morreu. Ele teve 95% do corpo queimado – o fogo só não atingiu a parte de trás da cabeça e a sola dos pés.
Quatro anos após o crime, Max Rogério Alves, Eron Chaves de Oliveira, Tomás Oliveira de Almeida e Antônio Novély Cardoso de Vilanova foram condenados pelo júri popular a 14 anos de prisão, em regime integralmente fechado, pelo crime de homicídio triplamente qualificado – por motivo torpe, meio cruel e uso de recurso que impossibilitou defesa à vítima. Por ser menor, G.N.A.J. foi condenado a um ano de medidas socioeducativas.
Galdino havia chegado a Brasília um dia antes de ser morto – no dia 19 de abril, Dia do Índio. Ele participou de várias manifestações pelos direitos dos indígenas.
Condenados por crime hediondo, Max, Antônio, Tomás e Eron não teriam, à época, direito à progressão de pena ou outros benefícios. A lei prevê a liberdade condicional após o cumprimento de dois terços da pena. Mas, em 2002, a 1ª Turma Criminal fez uma interpretação diferente. Como não há veto a benefícios específicos na lei, os desembargadores concederam autorização para que os quatro exercessem funções administrativas em órgãos públicos.
As autorizações da Justiça permitiam estritamente que os quatro saíssem do presídio da Papuda para trabalhar e retornassem ao final do expediente. A turma de juízes chegou a permitir que os quatro também estudassem, mas, como há proibição específica na Lei de Execuções Penais, o Ministério Público recorreu e conseguiu revogar a permissão de estudo para Eron Oliveira e Tomás Oliveira. Mesmo assim, eles continuaram estudando em universidades locais, contrariando a decisão.
Em outubro do mesmo ano, o jornal "Correio Braziliense" flagrou três dos cinco rapazes bebendo cerveja em um bar, namorando e dirigindo o próprio carro até o presídio, sem passar por qualquer tipo de revista na volta. Após a denúncia, os assassinos perderam, temporariamente, o direito ao regime semiaberto, que era o que permitia o trabalho e o estudo externos.

Em agosto de 2004, os quatro rapazes ganharam o direito ao livramento condicional, mas eles precisam seguir algumas regras de comportamento impostas pelo juiz no processo para manter a liberdade, como não sair do Distrito Federal sem autorização da Justiça e comunicar periodicamente ao juiz sua atividade profissional.
 
 
 
O que refletir sobre esse assunto? Como a nossa polícia, que seria para nos defender, é formada? Com pessoas que ateiam fogo num índio? Acho que temos que pensar muito sobre esse assunto....

Brasil com P - GOG

Durante esse semestre estudando Criminologia, assistimos vários vídeos e ouvimos algumas músicas. A música que trazemos para fomentar o debate é de autoria do escritor e rapper de Brasília, GOG - Genival Oliveira Gonçalves. Esse Brasil com P cantando por GOG reflete tudo aquilo que estudamos ao longo do período. Aperte o play, ouça, reflita e comente! ;)

Brasil com P 

Pesquisa publicada prova:
Preferencialmente preto, pobre, prostituta
Pra polícia prender
Pare, pense, porque?
Prossigo,
Pelas periferias praticam perversidades: PMs!
Pelos palanques políticos prometem, prometem,
Pura palhaçada. Proveito próprio?
Praias, programas, piscinas, palmas...
Pra periferia? Pânico, pólvora, pápápá!
Primeira página.
Preço pago?
Pescoço, peito, pulmões perfurados.
Parece pouco?
Pedro Paulo,
Profissão: pedreiro,
Passa-tempo predileto: pandeiro,
Preso portanto pó, Passou pelos piores pesadelos.
Presídios, porões, problemas pessoais, psicológicos...
Perdeu parceiros, passado, presente,
País, parentes, principais pertences.
PC: político privilegiado
Preso, parecia piada.
Pagou propina pro plantão policial,
Passou pela porta principal.
Posso parecer psicopata,
Pivô pra perseguição,
Prevejo populares portanto pistolas,
Pronunciando palavrões,
Promotores públicos pedindo prisões...
Pecado, pena,
Prisão perpétua!

Palavras pronunciadas pelo profeta, periferia.

Próxima Parte:

Pelo presente pronunciamento,
pedimos punição para peixes pequenos,
poderosos pesos pesados.
Pedimos principalmente paixão pela pátria
prostituída pelos portugueses.
Prevenimos,posição parcial poderá provocar
protestos, paralisações, piquetes, pressão popular.
Preocupados?
Promovemos passeatas pacificas, palestras,
panfletamos.
Passamos perseguições, perigos por praça, palcos...
Protestávamos porque privatizaram portos,
pedágios... (precisamos produzir)... proibidos.
Policiais petulantes, pressionavam, pancadas,
pauladas, pontapés (precisamos produzir).
Pangarés pisoteando, postulavam prêmios, pura
pilantragem.
Padres, pastores, promoveram procissões
pedindo piedade,paciência para população.
Parábolas, profecias, prometiam pétalas,
paraíso, predominou predador.
Paramos, pensamos profundamente:
Porque pobre pesa plástico, papel, papelão,
pelo pingado,pela passagem, pelo pão?
Porque proliferam pragas, pestes pelo país?
Porque Presidente?
Pra Princesinha, Patricinha: Prestigio, Patrocinio,
Progresso, Patrimonios, Propriedade, Palacetes,
Porcelana, Pérolas, Perfumes, Plásticas, Plumas,
Paetés.
Porque Prossegue?
Pro Plebeu Predestinado: Pranto, Perfuracoes, Pesames,
Pulseira Pro Pulso, Pinga, Poeira, Pedradas, Pagar
Prestacao Por Prestacao, Parceiros Paraliticos,
Paraplégicos, Prostituicao.
Personalidades Publicas Podiam Pressionar, Permanecem
Paralizadas. Procedimento Padrao, Parabens! Peco
Permissao Pra Perguntar: Porque Pele Preta, Postura
Parda? Po Pensador, Pisou, Pior, Posou Pros Playboys,
Pra plateia. Peço Postura, Personalidade. Pros
Parceiros, Pras Parceiras.
Presidente, Palmares Proclama: Primeiro, Presenca
Popular Permanente. Proposta: Pente Por Pente, Pipoco
por Pipoco Paredao Pros Parisitas.

Link: http://www.vagalume.com.br/gog/brasil-com-p.html#ixzz33ir9WWrv


Postado por: Andressa Bonet, Rodrigo Martins e Thiara Nascimento


Violência Policial, UPPS e Homicídios – Uma análise sobre a segurança pública no Rio de Janeiro

A população mais pobre sofre com a violência policial, por um lado, e a ação das milícias e do tráfico, por outro. Através das Unidades de Polícia Pacificadoras, o Estado retomou territórios, mas direitos sociais e cidadania ainda não chegaram.
A Organização das Nações Unidas (ONU), apresentou, no último mês de abril, o Relatório Global sobre Homicídios 2013 e citou, entre os resultados, que o Brasil apresentou estabilidade no registro de homicídios dolosos - quando há intenção de matar. De acordo com o documento, o país atuou com maior ênfase no combate à violência e destacou a implantação das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPS) como uma iniciativa determinante para a redução dos índices de homicídio em quase 80% no Rio de Janeiro entre 2008 e 2012. Em novembro de 2013, o estudo contabilizou 34 unidades em operação em 226 comunidades, beneficiando mais de 1,5 milhão de pessoas.
O texto destaca ainda que o número de homicídios e roubos caíram nas comunidades pacificadas, mas verificou-se que, no mesmo período, os registros de abusos sexuais aumentaram em quase 200% após a instalação das UPPs. O estudo, no entanto, aponta que o número aumentou porque os moradores perderam o medo de denunciar. O texto atribuiu a isso "o fato de a população confiar mais na polícia ou devido a facilidade de se registrar o crime".
Embora o os dados mostrem uma redução na taxa de homicídios, ainda ocorrem mortes classificadas como autos de resistência que são uma espécie de cortina de fumaça formal e fraudulenta da qual a polícia lança mão em larga escala para encobrir assassinatos em série. E todas as pesquisas apontam o perfil médio das vítimas : homem, jovem, negro e morador de favela. Conforme vimos na aula sobre Homicídios, dados de 2010 apontam que morreram proporcionalmente 139% mais negros que brancos no Brasil e em alguns estados (os mais violentos são Sergipe, Alagoas, Pernambuco e Espírito Santo) a vitimização chegou a alcançar 1800%.
            Dados da Secretaria de Estado de Saúde e da PNAD/IBGE de 2012 mostram que a taxa de mortalidade por arma de fogo, segundo cor ou raça, é bem maior em meio à população negra. A taxa por 100 mil habitantes entre pretos (25,9%) e pardos (29,1%) corresponde a duas vezes a taxa das vítimas brancas (13,5%)


Outro levantamento recente indica que um dos principais temores dos moradores das periferias é serem torturados pela polícia militar. E não é para menos. Afinal, o morador das comunidades sabe a polícia que tem. Sente na pele o desrespeito cotidiano aos seus direitos mais básicos de cidadão.
Se não bastasse a truculência habitual das forças públicas de segurança, esse grande contingente dos habitantes do Rio sofre com a violência das milícias, que também controla território, e se financia por meio de uma série de atividades econômicas ilegais, como a venda de segurança, de bujões de gás a preços exorbitantes e do conhecido gatonet.
Já nas áreas não pacificadas as quadrilhas de narcotraficantes seguem subjugando a população, com seus tribunais paralelos, justiçamentos, toques de recolher, etc. E mesmo nas favelas onde as Unidades de Polícia Pacificadora foram instaladas a tão almejada paz ainda está longe de ser realidade.
Enquanto muitos policiais deUPPs seguem criminalizando a pobreza, vide os casos mais emblemáticos como os assassinatos do pedreiro Amarildo e do dançarino Degê, remanescentes das desalojadas  facções do tráfico atacam com frequência os policiais e os postos das UPPs, disseminando medo e pânico na população.
O xis do problema reside no fato de a política das UPPs não ter sido capaz de dar o passo seguinte à ocupação militar. A população esperava que a prioridade do poder público fosse assegurar seu acesso a equipamentos e serviços públicos, o que não aconteceu.
E o bem-vindo desalojamento das quadrilhas dos pontos de venda de drogas nas comunidades acabou gerando um problema colateral. Nos primeiros meses de 2014, houve aumento de 50% nos casos de assalto a transeuntes, na comparação com o mesmo período de 2013, segundo o ISP (Instituto de Segurança Pública)
Mas os índices de violência no estado são alimentados ainda por outros de tipos de delito. São alarmantes, por exemplo, os números relativos a mortes por armas de fogo, em muitos casos por motivos fúteis, e por acidentes de trânsito.
Em 2012, morreram 3.056 pessoas em decorrência de acidentes de transportes, entre pedestres, ocupantes de automóveis e motociclistas, de acordo com os registros da Secretaria Estadual de Saúde.
No topo das estatísticas, também figuram os atos de violência contra as mulheres, especialmente os casos de estupro. Só em 2012, 6029 mulheres foram estupradas no Rio.
Acreditamos que seja necessário alterar radicalmente a doutrina de segurança pública adotada no estado, aplicando efetivamente o conceito de segurança pública com cidadania. E para atingir esse objetivo, é fundamental mudar a formação do policial, assim como debatermos a possibilidade de desmilitarização da polícia. Também acreditamos que os policiais são bem preparados para combater um suposto inimigo e por isso são tão violentos. Não podemos esquecer que os policiais são também trabalhadores e humanos, que saem de suas casas muitas vezes escondendo a farda e sem saber se vão voltar do trabalho para suas famílias.


Visto que o Relatório da ONU aponta que as UPPs reduziram os homicídios, achamos que essa política também deveria ser estendida às áreas dominadas por milícias. Por fim, com a retomada desses territórios para as comunidades, acreditamos que políticas sociais devem ser implementadas para de fato haver pacificação. 

Essa foi uma postagem coletiva dos alunos: Andressa Bonet, Rodrigo Martins e Thiara Nascimento. 

sábado, 31 de maio de 2014



Para entender um pouco mais sobre a relação manicomial e a política de higienização através de internação compulsória dos usuários de crack ainda aceita no país! 

quarta-feira, 28 de maio de 2014

Memória da Loucura


De acordo com os dados do Ministério da Saúde através do programa Memória da Loucura, a partir da promulgação da Lei nº 10.216, de 6 de abril de 2001, que dispõe sobre a proteção e os direitos das pessoas portadoras de transtornos mentais e redireciona o modelo assistencial em saúde mental, o Brasil entrou para o grupo de países com uma legislação moderna e coerente com as diretrizes da Organização Mundial da Saúde e seu Escritório Regional para as Américas, a OPAS.
A Lei indica uma direção para a assistência psiquiátrica e estabelece uma gama de direitos das pessoas portadoras de transtornos mentais; regulamenta as internações involuntárias, colocando-as sob a supervisão do Ministério Público, órgão do Estado guardião dos direitos indisponíveis de todos os cidadãos brasileiros.
A Reforma Psiquiátrica é entendida como processo social complexo, que envolve a mudança na assistência de acordo com os novos pressupostos técnicos e éticos, a incorporação cultural desses valores e a convalidação jurídico-legal desta nova ordem. 

Para entender mais sobre o tema, os links abaixo esclarecem e pormenorizam a história da Psiquiatria no Brasil e as mudanças que ocorreram nos últimos anos para os sujeitos acometidos de doença mental. Vale muito a pena entender um pouco mais sobre um assunto que atravessa a prática de uma psicologia mais social e participativa com os direitos dessa importante parte da sociedade brasileira. 

Mapa da violência 2014: Número de assassinatos cresceu 7,9% no país entre 2011 e 2012

Segundo dados divulgados pelo Ministério da Saúde, que tem como fonte os atestados de óbito emitidos em todo o país. O Brasil registrou em 2012 o maior número absoluto de assassinatos e a taxa mais alta de homicídios desde 1980. Nada menos do que 56.337 pessoas foram mortas naquele ano, num acréscimo de 7,9% frente a 2011. A taxa de homicídios, que leva em conta o crescimento da população, também aumentou 7%, totalizando 29 vítimas fatais para cada 100 mil habitantes. É o que revela a mais nova versão do Mapa da Violência, que será lançada nas próximas semanas com dados que vão até 2012.
O Rio de Janeiro, Espirito Santo e mais três outros estados da Federação conseguiram reduzir suas taxas de homicídios de 2011 para 2012. 


Mapa da Violência 2014 - Taxa de homicídios no Brasil em 2012

segunda-feira, 26 de maio de 2014

Como se fabricam crianças loucas

Os manicômios não são passado, são presente. Uma pesquisa realizada no hospital psiquiátrico Pinel, em São Paulo, mostra que, mesmo depois das novas diretrizes da política de saúde mental no Brasil, crianças e adolescentes continuaram a ser trancados por longos períodos, muitas vezes sem diagnóstico que justificasse a internação, a mando da Justiça. Conheça a história de Raquel: 1807 dias de confinamento. E de José: 1271 dias de segregação. Ambos tiveram sua loucura fabricada na primeira década deste século 
 
 

"O Avanço da Maconha" - A estreita relação da legalização da droga no Uruguai com o Brasil.

O Uruguai foi o primeiro país do mundo a legalizar o cultivo e o comércio da maconha. A lei só entra em vigor no segundo semestre de 2014, mas já causou muita polêmica e discussão no país, visto o grande número de pessoas contrárias a decisão do governo local para diminuir a violência e o tráfico no país. A reportagem exibida no Jornal da Band em 10/04/14 faz parte de uma série de seis reportagens, conduzidas pelo repórter Fábio Pannuzio. Esse episódio da série traz uma discussão interessante a respeito do nosso país, moradores e comerciantes da cidade gaúcha de Santana do Livramento que faz divisa com o munícipio de Rivera no Uruguai, podem ser enquadrados por Tráfico Internacional de Drogas. A reportagem traz o exemplo de uma farmácia que fica no lado Uruguaio que pode livremente comercializar a droga, partir de Julho e o dono da farmácia no lado brasileiro pode ser preso caso efetue a vendada maconha.  Outro aspecto observado pelo vice prefeito da cidade brasileira, é o medo de que segundo ele a cidade se "infeste de maconha" devido ao fácil acesso entre as cidades. Como resolver o "problema" da cidade de Santana do Livramento? A legalização do comércio e o uso da droga  seriam soluções viáveis  para resolver esse caso? Já não está na hora do Brasil discutir de forma mais direta a legalização da maconha?







OBS: A  série de reportagens "O Avanço da Maconha" é imperdível para qualquer um interessado na questão das drogas e dos direitos humanos, principalmente pela imparcialidade e profundidade de como tratou o assunto em pleno horário nobre na televisão aberta.

domingo, 25 de maio de 2014

Pessoal,
Amanhã as 14h acontecerá na Diuc (Divisão de Integração Universidade Comunidade), Ilha do Fundão (ao lado da prefeitura universitária), uma reunião entre diferentes instituições que desenvolvem trabalhos na Maré, associações de moradores de lá e as Forças de Pacificação que estão atuando na região (com presença do Comandante Geral do Exército, general Escoto). Essa reunião é parte de um projeto que se encontra em construção neste momento em que a UFRJ, via NIAC (Núcleo Interdisciplinar de Ações para Cidadania, que reúne as áreas Psicologia, Direito e Serviço Social), intenta potencializar as forças que já estão atuando na Maré em nome da defesa e promoção de direitos.
Acreditamos que essa discussão é muito importante para nossa formação e que a temática que ali estará sendo tratada é parte do tema da aula de amanhã, Ditaduras de Ontem e Hoje. Por esse motivo a aula de amanhã será transferida para o Fundão. Participar desse encontro será nossa aula. 
Pedimos que, por favor, avisem aos demais colegas da turma.
Abs,
Pedro Bicalho e Roberta Brasilino.

sexta-feira, 23 de maio de 2014

Entrevista com o autor de "O fim da guerra"

Entrevista com Denis Burgierman, o autor do livro "O fim da guerra". No livro, ele conta sobre suas viagens para diversos países onde a maconha não é criminalizada, procurando saber como cada um deles lida com o problema das drogas, especificamente da maconha, objetivando apresentar um modelo político que possa substituir o modelo brasileiro, que se mostra repressor e ineficaz. O que mais me chamou atenção no autor foram suas afirmações de que o surgimento da indústria do tráfico é, em parte, causado pelos políticos, pois estes utilizam como forma de plataforma eleitoral as drogas exageradamente difamadas e, além disso, Burgierman demonstra que as drogas não estão tão disseminadas nem causam a quantidade de problemas quanto se imagina, ao relatar que existem 210 milhões de usuários de drogas ilícitas no mundo, porém, 165 milhões seriam usuários de maconha e, com a sua regulamentação, sobrariam apenas os outros 45 milhões de usuários de drogas pesadas, dos quais 10 milhões são considerados usuários problemáticos. Burgierman mostra, segundo pesquisas político-econômicas, que haveria um grande impacto caso houvesse uma descriminalização da droga no Brasil e que isso traria bons resultados. Vale a pena assistir!



Cursos Online Grátis e com Certificado. Universidades Internacionais

Tráfico de Pessoas

https://www.coursera.org/course/humantrafficking

A migração Latino Americana


O Mal da América: Uso e o Controle das Drogas nos EUA


Presunção de Inocência? Entendendo as condenações injustas através da ciências sociais


Direito Criminal


Introdução às Ciências Forenses


Introdução ao Direito Penal Internacional


Introdução aos Direitos Humanos


Compreendendo a Violência

quarta-feira, 21 de maio de 2014

Paz com voz


DEBATE: Direitos Humanos e UPP
 

Nesta quinta-feira (22), às 8h30, Marcelo Freixo vai estar na Mangueira para debater o tema Polícia e Comunidade. Junto a Freixo, estarão na mesa de debate a pesquisadora Sílvia Ramos, o ex-comandante da PM Ubirantan Ângelo e Felipe Chocoball.
 
O encontro será no auditório da Escola Técnica Adolpho Bloch, que fica na Av. Bartolomeu de Gusmão, 850 – São Cristóvão.

O debate é aberto ao público, então, é só chegar! Este diálogo é muito importante e deve ser incentivado.

terça-feira, 20 de maio de 2014

Um tanto quanto curioso!

Henry Hargreaves Fotografa as Últimas Refeições do Corredor da Morte

Encontro de Psicologia Jurídica - Faculdade Maria Thereza



Encontro de Psicologia Jurídica Promovido em Colaboração pelas Faculdades Integradas Maria Thereza e a ETIC – Equipe Interdisciplinar Civil /Psicologia, 
Dia 21 de Maio de 2014, de 8h às 22h.


Inscrições poderão ser feitas no local.

Evento no facebook: https://www.facebook.com/events/1435214780065565/?ref=br_tf

segunda-feira, 19 de maio de 2014

Distribuições das facções criminosas pelo RJ

Encontrei estes blog que mostra a distribuição das facções pelas favelas aqui do Rio. Achei interessante colocar aqui para que a turma tivesse contato com estes dados. O blog data de 2009, por isso as informações podem estar bastantes desatualizadas, apesar disso acredito que seja válido dar uma olhada.

domingo, 11 de maio de 2014

Prefeitura do Rio retira moradores de rua para coibir delitos

Vitor Abdala - Repórter da Agência Brasil - Agência Brasil 18.02.2014 - 11h03 | Atualizado em 18.02.2014 - 11h38


http://www.ebc.com.br/cidadania/2014/02/prefeitura-do-rio-retira-moradores-de-rua-para-coibir-delitos

A prefeitura do Rio de Janeiro iniciou hoje (18) uma operação na zona sul e no centro da cidade, com o objetivo de coibir a “prática de pequenos delitos”. Nos bairros de Copacabana e Leme, na zona sul da cidade, os agentes da prefeitura e policiais militares tinham como foco principal o recolhimento de moradores de rua.
“A ideia é dar um ordenamento maior na orla e nessas regiões, atender à população de rua que precisar de ajuda e a polícia, obviamente, enfrentar os pequenos delitos. Há casos em que a fronteira é muito pequena, como um dependente químico que está na rua e pode estar cometendo um delito. Isso é um caso de segurança pública. Se ele não cometeu um delito, obviamente é um caso de assistência social. Mas o morador de rua só é recolhido, se ele quiser”, disse o secretário municipal de Governo, Rodrigo Bethlem.
No entanto, a Agência Brasil acompanhou a ação durante mais de uma hora, até as 10h de hoje, e verificou que alguns moradores foram encaminhados para a van da prefeitura, para serem levados à delegacia e depois ao abrigo, mesmo sem querer ajuda das autoridades.
Duas irmãs que dormiam na areia da Praia de Copacabana disseram que não gostariam de voltar ao abrigo de onde tinham saído ontem e onde disseram ter sido maltratadas. Os agentes da prefeitura insistiram em levá-las à van e quando fracassaram, disseram que precisavam levá-las à delegacia para verificar se não tinham cometido nenhum crime.
Ainda diante da negativa das irmãs, um policial militar interviu dizendo que elas não precisariam ir à delegacia, mas que teriam que sairem da praia, mesmo sendo um local público. Em uma praça no bairro do Leme, os agentes da prefeitura, acompanhados de guardas municipais e policiais militares, acordaram um casal que dormia no chão.
Os dois se recusaram a entrar na van e tiveram que ser conduzidos, pelo braço, pelos agentes. Um deles conseguiu escapar e os agentes o perseguiram pela orla. Questionado pela Agência Brasil  se os moradores de rua não estavam sendo coagidos ou sendo retirados à força pela prefeitura, o secretário alegou que muitos não tinham documentos e, por isso, precisavam levá-los à delegacia.
“Eles não têm documento, então a polícia nos orientou a encaminhá-los à delegacia. Eles podem ter cometido algum crime e serem foragidos”, disse o secretário à reportagem.
No mesmo momento em que o casal de moradores de rua foi acordado pelos agentes, um recolhedor de apostas do jogo do bicho permaneceu sentado em um banco da praça, sem ser importunado ou sequer abordado por policiais e guardas municipais. Ele apenas recolheu seu material e os guardou. Ninguém pediu para verificar seus documentos.
O jogo do bicho é proibido pelo artigo 58 da Lei de Contravenção Penal que prevê pena de quatro meses a um ano de prisão, além de multa. A Agência Brasil também questionou o secretário por que o contraventor não havia sido abordado pelos agentes. “Tinha jogo do bicho ali? Nem vi. Mas isso é caso de polícia. Nós não somos polícia”, disse Bethlem.
A reportagem questionou então, se o objetivo da operação não era coibir pequenos delitos e se não era justamente essa a razão de policiais militares participarem da operação. O secretário disse então que os policiais deveriam ter agido.
Segundo o secretário, a operação terá caráter permanente e será realizada dia e noite. São quatro equipes com profissionais como guardas municipais, policiais militares, assistentes sociais e agentes de ordem pública.

terça-feira, 6 de maio de 2014

Quinhentos mil contra um



A onda de linchamentos pelo país é preocupante. Quem são os linchados? Quem são os linchadores? E quem são aqueles embora não participem diretamente aprovam os linchamentos? 



Código Penal:

Art. 286 - Incitar, publicamente, a prática de crime:
Pena - detenção, de 3 (três) a 6 (seis) meses, ou multa.

Art. 287 - Fazer, publicamente, apologia de fato criminoso ou de autor de crime:
Pena - detenção, de 3 (três) a 6 (seis) meses, ou multa.

Sobre a Fabiana:
https://www.facebook.com/oserainomundo/photos/a.130616363775284.1073741828.130614307108823/139138219589765/?type=1&theater

Sobre o Alailton:
http://negrobelchior.cartacapital.com.br/2014/04/11/jovem-negro-e-espancado-e-morto-por-populares-no-es/

Sobre o Marcelo:
http://correiodobrasil.com.br/noticias/brasil/justiceiros-matam-suspeito-inocente-dos-crimes-de-que-o-acusaram/688981/
 

Quinhentos mil contra um

Flávia Tavares - O Estado de S.Paulo em 17/02/2008
No fim de semana passado, três homens suspeitos de roubo foram linchados na periferia de Salvador. No sábado, Emílio Oliveira Silva e Michael Santa Izabel, acusados de saquear residências da vizinhança, foram linchados por mais de 30 pessoas. Emílio foi morto a pauladas. Domingo, a vítima foi um homem de identidade desconhecida. Ele também foi perseguido por mais de 30 moradores, que o acusavam de roubar uma TV. Morreu no local, a 200 metros de onde Emílio e Michael foram atacados. Na noite de segunda-feira, em Ribeirão Preto (SP), o estudante Caio Meneghetti Fleury Lombardi, que invadiu um posto de gasolina, atropelou o frentista Carlos Pereira Silva e tentou fugir, sofreu uma tentativa de linchamento. Por fim, na quinta-feira, um adolescente da Fundação Casa (ex-Febem) foi linchado até a morte por outros internos, em Franco da Rocha (SP).
Foram cinco casos noticiados em 6 dias. Não se trata de uma epidemia - em nosso contexto, é algo normal. José de Souza Martins, sociólogo e colaborador do Aliás, estuda linchamentos há quase 30 anos e documentou 2 mil casos. Ele faz uma estimativa surpreendente: no Brasil, possivelmente o país que mais lincha no mundo, há 3 ou 4 casos por semana. Geralmente, nas periferias das cidades, comSão Paulo, Salvador e Rio de Janeiro à frente.
A análise minuciosa de como se dão essas atrocidades é dolorosa, mas reveladora. Mais de 500 mil brasileiros e brasileiras, incluindo crianças, participaram de linchamentos nos últimos 50 anos - e quase ninguém foi punido. A seqüência de agressões vai do apedrejamento à mutilação. Não é uma questão de pura maldade: é a população agindo, equivocadamente, onde a Justiça não atua.
José de Souza Martins, de 69 anos, professor de sociologia da Faculdade de Filosofia da USP, está lançando dois livros - uma reedição ampliada de Sociabilidade do Homem Simples (Ed. Contexto) e o inédito A Aparição do Demônio na Fábrica (Ed. 34), ambos sobre a cultura operária. Na entrevista a seguir, ele discorre sobre o fenômeno do linchamento, tema que pretende, em breve, transformar em livro.
O Brasil é o país que mais lincha no mundo?
Possivelmente. Isso nos últimos 50 anos, período que minha pesquisa abrange. Não dá para ter certeza, porque linchamento é o tipo de crime inquantificável. Mesmo os americanos, quando tentaram numerar seus casos, tiveram fontes precárias. O linchamento é um crime altruísta, ou seja, um crime social com intenções sociais. O linchador age em nome da sociedade. É um homem de bem que sabe que está cometendo um delito e não quer visibilidade. Por outro lado, no Código Penal brasileiro não existe o crime de linchamento, somente o homicídio. Então, ele não aparece nas estatísticas. Os casos são diluídos. Estimo que aconteçam de 3 a 4 linchamentos no País por semana, na média. São Paulo é a cidade que mais lincha. Depois, vêm Salvador e Rio de Janeiro.
Que análise o senhor faz de um país habituado ao linchamento?
As sociedades lincham quando a estrutura do Estado é débil. Há momentos históricos em que isso acontece. Na França, depois da 2ª Guerra Mundial, quando não havia uma ordem política, havia a tonsura (a raspagem dos cabelos) de mulheres que tiveram relações sexuais com nazistas. Era uma forma de estigmatizar, para que ela ficasse marcada. O linchamento original, nos Estados Unidos, tinha essa característica.
O que configura um linchamento?
É uma forma de punição coletiva contra alguém que desenvolveu uma forma de comportamento anti-social. O anti-social varia de momento para momento e de grupo para grupo. Na França, ter traído a pátria era um motivo para linchar. No caso da Itália, aconteceu o mesmo. No Brasil, é o fato de não termos justiça, pelo menos na percepção das pessoas comuns. Nesse caso do atropelamento de um frentista em Ribeirão Preto, por exemplo, o delegado decidiu inicialmente por crime culposo (depois mudou para doloso). As pessoas que tentaram linchar o rapaz acreditavam que não haveria justiça, já que a pena seria mais leve por conta da atenuante.
Qual o perfil de quem é linchado?
Em geral, é linchado o pobre, mas há várias exceções. Há uma pequena porcentagem superior de negros em relação a brancos. Se um branco e um negro, separadamente, cometem o mesmo crime, a probabilidade de o negro ser linchado é maior.
Que criminoso é mais vulnerável?
O linchado pode ser desde o ladrão de galinha até o estuprador de criança. Sem dúvida, os maiores fatores são os casos de homicídio. Se a vítima do assassino é uma criança ou um jovem, ou se houve violência sexual, os linchamentos são freqüentes. Há muitas ocorrências por causa de roubo, especialmente se o ladrão é contumaz. Acredito que tenha sido o caso dos rapazes em Salvador. A própria população estabelece uma gradação da pena que vai impor ao linchado. Esta é a dimensão de racionalidade num ato irracional.
Como funciona essa gradação?
Um ladrão de galinha vai sair muito machucado - e pode acontecer de ele morrer. Mas o risco de ser queimado é mínimo. Com o estuprador é o contrário. Há também uma escala de durabilidade do ódio. Se um ladrão sobreviver durante 10 minutos de ataque, está salvo. Tem havido muitas tentativas de linchamento em acidentes de trânsito. Mas normalmente a polícia chega logo e evita o ataque.
Mulheres são linchadas?
É raríssimo. Nos 2 mil casos que estudei, há dois ou três em que uma mulher foi a vítima. Agora, há muitas mulheres linchadoras no Brasil. Mulheres e crianças.
Quem são os linchadores no Brasil?
Não há tanto uma divisão de ricos e pobres. De modo geral, os linchamentos são urbanos. Ocorrem em bairros de periferia. Porém, há linchamentos no interior do País, onde quem atua é a classe média. O caso mais emblemático é o de Matupá, no Mato Grosso. O linchamento foi filmado e passado pela televisão, no noticiário. Três sujeitos assaltaram o banco, a população conseguiu linchá-los e queimá-los vivos. Isso foi a classe média. E quando a classe média lincha, a crueldade tende a ser maior, porque ela tem prazer no sofrimento da vítima. O pobre é igualmente radical, porém é mais ritual na execução do linchamento.
Qual é a diferença entre um linchador cruel e um ritual?
No caso de Matupá, por exemplo, o prazer de quem linchou foi ver sofrer. Os três nem sequer cometeram um crime contra a comunidade. Já o pobre lincha quando a condição humana é violada. É uma punição sacrificial da vítima do linchamento pelas vítimas que ele causou. Isso não exclui a crueldade, mas ela é diferente. A idéia, nesses casos, é punir o corpo e a alma. Há um caso no sertão da Bahia, na região de Monte Santo. Um rapaz estupra e mata uma professora da região. Ele é preso num quartel. Naquela noite, uma pequena multidão chega de caminhão ao quartel, rende os soldados, tira o sujeito da cadeia e o leva para o local do crime. No caminho, vão mutilando o rapaz. Chegando lá, ele ainda está vivo, mas é uma pasta. O moço é queimado vivo, que é como a maior parte dos linchamentos acaba no Brasil. Ou seja, ele teve de derramar seu sangue onde foi derramado o sangue de sua vítima.Aparentemente, é um ritual de troca do sangue. Como ele derramou o de uma pessoa inocente, de uma mulher presumivelmente virgem - o que agrava a dimensão simbólica e a sacralidade do corpo violado -, ele foi queimado. Na crença popular, quem morre desfigurado por violência não encontra o caminho da eternidade. O cego, especialmente. Por isso, é comum que arranquem os olhos do linchado.
A característica ritual desses linchamentos é uma invenção brasileira?
Levantei muito material sobre os EUA, onde a cultura é protestante. Lá, o caráter ritual não aparecia. A execução de negros, por exemplo, era sumária, por enforcamento. Inclusive, depois se fotografava o linchado e produziam-se cartões-postais com essas imagens. Era um ato para mostrar quem mandava.
O linchamento já foi usado como pena instituída?
Existe uma tradição antiga de vários países, especialmente asiáticos e árabes, em que a punição para determinados crimes é o linchamento por apedrejamento. Mas reservamos o termo para o início da sociedade moderna, em que surge a figura da multidão "indiferençada". O típico linchamento é na rua. Se há um assalto e alguém grita, forma-se uma multidão que não tem identidade. Quem passa por ali ataca. Não há planejamento.
As pessoas têm consciência do que estão fazendo?
Muitas vezes, não. E há casos comprovados disso. Um rapaz negro foi linchado na periferia do Rio e, quando a polícia chegou, havia uma velhinha da vizinhança, tipo vovozinha, com uma colher tentando arrancar os olhos do rapaz. A polícia teve enorme dificuldade para tirá-la de cima do morto. Foi preciso levá-la para o hospital e medicá-la para que voltasse a si. A multidão passa a ser outro sujeito.
Estamos todos sujeitos a participar de um linchamento?
Se você tem valores bem fundamentados, não vai participar de um linchamento. Ele envolve pessoas cuja referência social é frágil. O problema é que elas são maioria no Brasil. Estima-se que 500 mil brasileiros tenham participado de linchamentos nos últimos 50 anos. Não é um número pequeno.
Como agem os linchadores?
Inicialmente, corre-se atrás do linchado. A vítima sempre corre, mesmo armada. É tudo muito covarde, porque as pessoas não atacam com as mãos. Primeiro, estonteiam a vítima com pauladas e pedradas. Arrastar a pessoa é comum, sempre pelos pés, que é mais uma forma de degradar. O passo seguinte é a mutilação. Em caso de crime sexual, há a castração e, às vezes, ela é seguida por atos ainda mais humilhantes, como o de colocar o pênis do rapaz em sua própria boca. Por fim, queima-se o sujeito, vivo ou morto.
Esse tipo de imagem nos leva àquela velha questão: intrinsecamente, o homem é mau?
Não diria isso. Mas a camada de civilização é muito fina. Tudo o que a gente chama de civilização, esse conjunto de valores, é muito frágil. Basta um acontecimento que rompa essa seda para que o ser humano primitivo que está ali, embutido não de maldade, mas de instintos, venha para fora. Porém, mesmo na reação instintiva, há regras.
Há picos de linchamento no Brasil?
Sim. Pegando os últimos 50 anos, logo após o fim da ditadura militar, o sentimento da população era de que a ordem havia acabado e que tudo era incerto. E esse clima não acabou. Outro pico foi no fim da ditadura de Getúlio Vargas. E há um detalhe interessante. Quarta e quinta-feira são os dias de pico. Em geral, há poucos linchamentos aos domingos e segundas-feiras.
Por quê?
Provavelmente, porque nossos linchamentos são urbanos e, no meio da semana, as pessoas estão no pico do estresse, mais frágeis para resistir à tentação.
Punir quem lincha é uma forma de reprimir os linchamentos?
Quem mata tem que ser punido. Não punir significa estimular. Mas é difícil punir. Há um caso curioso no oeste de Santa Catarina, mais ou menos 20 anos atrás. Um rapaz foi linchado e levou uns 20 dias para morrer. Antes disso, conseguiu identificar 23 linchadores. Eles foram a julgamento. Os jurados absolveram 22 acusados. Só condenaram um: o mais pobre. Ele foi condenado a 7 anos de prisão. É complicado levar a julgamento, porque o júri tende a ter simpatia pelos linchadores.
Há mais casos de pessoas que foram presas por linchamento?
Sim, mas só um caso de condenação efetiva que eu conheça.
O fato de o linchamento não ser tipificado altera os números de violência no Brasil?
O número de assassinatos e tentativas de assassinato que não ocorrem por meio de linchamento é muito maior do que os que são provocados por linchamento. Então, isso não afeta significativamente os números de violência. Afeta, sim, a quantificação de linchamentos no Brasil. Há períodos em que acontecem mais e há períodos, de algumas semanas, em que nada acontece.
Quando?
No mês da Copa de 98, por exemplo, o Brasil não registrou nenhum linchamento. Poucas horas depois do último jogo da seleção brasileira, aconteceu um linchamento, que não tinha nada a ver com a partida. Isso confirma que há momentos, como a Copa do Mundo e a morte de grandes ídolos, como foi a do Ayrton Senna, em que a sociedade brasileira comunga. A desordem deixa de existir, porque há um sentimento que prevalece sobre o conjunto da diversidade e das adversidades. O Brasil só é Brasil nesses momentos.
Que papel a polícia desempenha nos linchamentos?
A polícia militar tem sido exemplar na proteção da vítima de linchamento. Inclusive, expondo-se a perigos. Às vezes, diante de evidências de que vai ocorrer um linchamento, a polícia se omite para permitir que ele ocorra. Mas, em geral, isso vem da polícia civil. Quando o delegado coloca um preso em determinada cela, pré-julga o criminoso e não o isola, ele está participando do linchamento que aquele preso pode sofrer na cadeia.
De onde vem o termo linchamento?
De um tal juiz Lynch, que atuava no oeste dos EUA, no século 18. Ele não era um juiz de verdade. As cidades que estavam nascendo ali não tinham lei. Quem violava as regras que estavam na consciência das pessoas era punido com o linchamento, que lá consistia em recobrir o corpo do fulano de betume e colocar penas de galinha nele, obrigando-o a desfilar pelo povoado, para todos saberem que ele deveria ser evitado. Era um linchamento moral e físico. No Brasil, já linchávamos no século 16. É o registro mais antigo que tenho.
Nos EUA, o linchamento esteve muito associado ao racismo. É surpreendente que, em tão pouco tempo, o país possa eleger um negro?
Os linchamentos dos EUA eram feitos principalmente entre pobres - pobres brancos linchando pobres negros. O governo Roosevelt criou alternativas para brancos e negros, com o desenvolvimento econômico. Além disso, as mulheres, que eram usadas como desculpa para linchar, fizeram um movimento lindíssimo e desarmaram a predisposição dos maridos. O último linchamento de que tenho notícia lá foi uns 10 anos atrás, de negros linchando um negro. As mudanças econômicas e as guerras, que abriram a possibilidade de um negro ser general, foram importantes. Os americanos já têm a Condoleezza Rice no governo, uma mulher muito culta. E isso abre caminho para o Barack Obama. Ainda há muito racismo, mas nada que mobilize multidões.