domingo, 8 de dezembro de 2013

Sobre nossas discussões acerca da produção de medo...

Em nome de quê pedimos reforços no policiamento?

http://g1.globo.com/rio-de-janeiro/noticia/2013/12/moradores-da-praca-seca-rio-cobram-reforco-no-policiamento.html

Revista Veja - Entrevista Stanton Samenow

Edição 2346

Na edição de 6 de novembro de 2013 (edição 2346 - ano 46 - nº45), a Revista Veja veiculou uma entrevista com o psicólogo e professor Stanton Samenow. Segundo a matéria, ele passou os últimos 43 anos lidando com criminosos, a fim de entender qual o raciocínio por trás dos delitos, como cada um enxergava seus atos e lidava com as consequências. O psicólogo publicou dois livros, na década de 70, que tratam de como pensam assaltantes, assassinos e psicopatas. Esses livros são considerados marcos para a criminologia. Samenow, que já foi consultor do FBI, continua a prestar assessoria a tribunais americanos.

Seguem abaixo os trechos iniciais da entrevista que reforça a ideia de que as pessoas que cometem delitos têm uma natureza criminosa. Os posicionamentos do psicólogo se enquadram dentro do Positivismo Criminológico. O foco do discurso de Samenow está na transgressão, buscando entender a natureza degenerada do transgressor. Seu objetivo é entender como os criminosos pensam e tomam decisões, para, como psicólogos, ficarmos mais bem posicionados para decidir o que fazer com eles. Samenow desconsidera a ideia de que o sujeito é um efeito de uma construção sócio-histórica.


COMO PENSAM OS CRIMINOSOS
Em quatro décadas entrevistando bandidos, o psicólogo concluiu que a decisão de cometer crimes pouco tem a ver com a pobreza e as condições de vida em que eles se encontram

Veja - O senhor diz que o comportamento criminosos é uma escolha. Por quê?
Samenow - Não é uma escolha apenas, é uma série de escolhas. Para quem opta pelo crime como caminho de vida, essas escolhas começam a ser feitas bem cedo, quase sempre. Por exemplo: as pessoas mentem, adultos e crianças. Mas os futuros criminosos não mentem apenas para escapar de situações embaraçosas ou exagerar seus feitos. Mentem porque obtém uma sensação de poder com isso. Mentir acaba se tornando uma escolha, e parte do seu comportamento. É assim em vários outros aspectos. Mais um exemplo: crianças pequenas pegam os brinquedos umas das outras, batem-se e beliscam-se, mas aprendem, normalmente até os 5 anos de idade, que machucar os outros é errado. Número 1, porque não querem ser machucadas também. Número 2, porque serão punidas se forem pegas fazendo o que sabem ser errado. E número 3, e o mais importante, porque desenvolvem uma sensibilidade em relação ao sofrimento das outras pessoas. Já o futuro criminoso sente prazer em machucar os outros, e não só fisicamente. Coisas que qualquer um pode fazer, ainda mais quando se é novo e não se sabe distinguir o certo do errado, os criminosos continuam a fazer durante toda a vida. Eles simplesmente não incorporam o que se tenta ensinar-lhes. Para eles, "ser alguém" é ser o centro das atenções. É a vida como estrada de mão única - e o único sentido possível é o deles. Todos gostamos que as coisas sejam como queremos, mas aprendemos que não temos controle absoluto para além de nossas próprias ações.É um modo muito especial de pensar, que se desenvolve ao longo do tempo.

Sua descrição de um criminoso aproxima-se de um psicopata. Qual a diferença entre eles?
Não é propriamente uma diferença. Existe uma escala, como no caso da ansiedade e da depressão. Os que são chamados de "psicopatas" seriam ocupantes do último degrau dessa escala. Mas não acho que o rótulo seja importante, são todos criminosos. O que é relevante é a presença de um padrão de pensamento leva a um comportamento criminoso.

Persiste uma crença de que o crime é reflexo da ausência de oportunidades, um produto do meio. Qual sua opinião sobre isso?
Muitos criminologistas e sociólogos discordam, mas ao longo dessas quatro décadas de entrevistas com criminosos cheguei à conclusão de que o ambiente tem uma influência relativamente pequena sobre o crime. em lugares muito pobres, com a presença de gangues e alto índice de criminalidade, há mais tentações e pressões, sem dúvida. Se armas e drogas estão ao alcance da mão, cometer delitos é mais fácil. Nos lugares em que a presença do Estado e da polícia é quase inexistente, é claro que a sensação de que se pode cometer um crime sem ser punido também é mais forte. Mas não podemos dizer que a maioria dos pobres se torna criminosa, isso não é verdade. O que podemos dizer é que todo criminosos - não importa se rico ou pobre, negro ou branco, educado ou analfabeto - tem uma forma semelhante de pensar. A questão é como as pessoas lidam com o que a vida lhes oferece. Na maioria esmagadora dos casos, uma pessoa que vem de uma vizinhança pobre, tem uma família desestruturada e poucas oportunidades não envereda pelo caminho do crime. Ela tem irmãos, irmãs, vizinhos que vivem na mesma condição e não seguem esse rumo. Há um caso que eu sempre cito. O pai e os dois irmãos de um rapaz estavam na prisão. A tentação para o crime se encontrava na porta de casa. Perguntei: por que você não seguiu esse caminho? Ele respondeu que não estava interessado - que olhou ao redor e viu como seus parentes acabaram, como estavam as pessoas a que eles haviam prejudicado, e decidiu que queria ser diferente.

A entrevista continua.

Livro utilizado para o seminário Favela

Gente, esse é o link do livro Abusado, do Caco Barcellos que foi utilizado como base na apresentação do seminário Favela.

BARCELLOS, Caco. Abusado: o dono do morro Dona Marta. Rio de Janeiro: Record, 2003.

Criminalização da Pobreza

A reportagem da Edição 126 da Revista Fórum, lançada no dia 19 de Setembro de 2013 traz uma entrevista que faz parte da matéria “Uma guerra e um alvo principal: os pobres”. Lança à discussão a Lei de drogas e criminalização da pobreza no contexto da prisões brasileiras, trazendo questionamento sobre quem são as pessoas encarceradas e ação seletiva da polícia e do Judiciário tendo como justificativa a guerra às drogas.
“Para o diretor executivo do Instituto Brasileiro de Ciências Criminais (IBCCRIM), Cristiano Avila Maronna, a lei [11.343] tem um papel especial” no encarceramento brutal que há no Brasil, por conta da subjetividade do artigo 28 que oferece ao agente policial, no ato da prisão o poder absoluto sobre o destino da pessoa flagrada com drogas. Maronna não tem dúvidas sobre quem é punido, independentemente da quantidade de drogas apreendida. São jovens, entre 18 e 25 anos, é afrodescendente, com educação fundamental, não tem antecedentes criminais”, define o advogado.”


sábado, 7 de dezembro de 2013

Alguns crimes são passíveis de intervenção e outros não? Pensando a mídia e a seletividade penal

 

‘Praia democrática é mito’ diz antropóloga

  • Autora de livro sobre a ocupação da orla, Julia O’Donnel reflete sobre arrastão, tribos e outras idiossincrasias das areias cariocas
Mariana Filgueiras (Email · Facebook · Twitter)
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A pesquisadora na Praia de Botafogo: “A notícia de que vão revistar ônibus vindos da Zona Norte caberia nos jornais de 1922”
Foto: Camilla Maia / Agência O Globo
A pesquisadora na Praia de Botafogo: “A notícia de que vão revistar ônibus vindos da Zona Norte caberia nos jornais de 1922” Camilla Maia / Agência O Globo
RIO — Assim que se mudou para o Rio, em 2004, e começou a frequentar as praias cariocas, a antropóloga paulistana Julia O’Donnel se surpreendeu com uma pergunta que ouvia com frequência:
— Em que posto da praia você vai?
Para ela, a escolha dependia tão somente do fato de haver espaço livre ou das condições do mar em determinado trecho de areia. Começou a se interessar pelo tema, conversar com as pessoas, e tentar entender por que a praia, apesar de ser um trecho restrito, é tão dividida entre si. Levou a curiosidade para o doutorado que faria na UFRJ e a tese virou o livro “A invenção de Copacabana: culturas urbanas e estilos de vida no Rio de Janeiro”, lançado em abril pela editora Zahar. O trabalho analisa o projeto de civilidade que se construiu na orla a partir de sua ocupação pelos cariocas, entre os anos de 1890 e 1940 — e a maneira pela qual a elite, a primeira a tomar as praias para si, na virada do século XX, adotou um discurso de exclusividade em relação ao espaço. Nas últimas semanas, ao ler notícias e comentários nas redes sociais sobre a nova onda de assaltos que ocorreu em dias de praias lotadas, provocando uma reação da polícia — que anunciou delegacias móveis nas areias, reforço de policiamento e até a polêmica medida de revistar ônibus vindos da Zona Norte durante o verão —, Julia notou um eco do mesmo discurso de “faxina social” que encontrara no início do século para sua pesquisa. Um discurso que põe em xeque o mito da praia como um espaço totalmente democrático, como defende ela. Moradora de São Conrado, mas frequentadora do Leme por causa da língua negra que há décadas afeta a qualidade da praia, a pesquisadora e professora de Antropologia Social da Fundação Getúlio Vargas conversou com a Revista O GLOBO sobre a praia que encontrou como um objeto de estudo.
Como se deu a apropriação das praias pela população?
Na virada do século XIX para o XX, só se ia à praia por razões medicinais, ninguém ia à praia por prazer. Foi na Europa e nos Estados Unidos que começou a se disseminar o hábito de usar a praia como lazer, mas isso não chegava ao Brasil. As revistas elegantes da época, como a “Revista da Semana”, faziam verdadeiras campanhas para convencer a população carioca a usar as praias. No mundo inteiro, diziam que quem era civilizado ia à praia, que era elegante ir à praia. Chamo essa campanha na minha tese de “projeto praiano-civilizatório”, em que a praia deveria ser ocupada, sim, mas dentro de um modelo de “elegância e civilização”, como eles diziam. Essa campanha começa a surtir efeito a partir da década de 1920. As praias começam a encher, e isso acompanha o boom demográfico de Copacabana, a partir da década de 1940, quando o bairro começou a ser associado à nova elite do Rio. Esse primeiro momento de ocupação da praia, portanto, não é democrático. A praia era um espaço exclusivo das elites. Nem ônibus entrava ali ainda.
Quando a praia se tornou mais democrática?
No final da década de 1920, começam a chegar a Copacabana as “taiobas", que eram os bondes de segunda classe que permitiam que os trabalhadores usassem trajes de banho. Mas, dentro da lógica das elites, começou a incomodar. O que estava acontecendo? A elite havia propagandeado um estilo de vida praiano, que não era só usar a praia, claro, mas era também ter um corpo moldado, bronzeado, elegante. A Coco Chanel apareceu nas revistas bronzeada e isso virou moda. E agora todos tinham de lidar com as praias lotadas de trabalhadores. De tanto alardear a campanha, o desejo de ter acesso ao mundo elegante à beira-mar passa também a ser a vontade de diferentes camadas sociais. E aí, no início da década de 1930, começam a aparecer textos muitíssimo inflamados nos jornais reclamando dessa suposta “invasão”.
É no início da década de 1930 que a elite começa a recobrar a tal “exclusividade”?
Sim. Começam a se referir às pessoas até como “animais”. (Lê um trecho do jornal “Beira-Mar”, de 1929, que usa em sua pesquisa: “esse referver de criaturas, bem ou mal vestidas, limpas ou sujas, de todas as cores ou nacionalidades afeia os balneários, que se assemelham a praias habitadas de focas, não a praias vaidosamente chamadas de elegantes”, ou: “Não somos dos que entendem fazer de Copacabana um lugar exclusivo dos ricos e dos estetas, o que defendemos é a ordem e a beleza social das nossas praias. Sejamos progressistas, mas separando o joio do trigo”). É a ideia de que a democracia não é compatível com a elegância.
A praia é um território democrático?
O acesso à praia é democrático, mas a gestão do espaço não é. Essa tentativa recorrente de controlar o que pode e o que não pode, desde o primeiro “choque de ordem”, em 1917, e que regulava o tamanho dos maiôs ou o horário permitido para tomar banho, é uma tentativa de moralização da praia usando a polícia como agente. É interessante: ao mesmo tempo em que a praia é vendida como um espaço democrático, há uma gestão moral sobre esta aparente democracia, que marca nossa estrutura social, que é profundamente estratificada.
O conceito de praia democrática, então, é um mito?
Sim. É um mito. Um exemplo é a chegada do metrô ao Arpoador, que provocou aquela chiadeira da população, dizendo que ia virar “lugar de favelado”. E isso gerou, de fato, um deslocamento: há uma população segmentada na praia que é majoritariamente negra. O que no nosso país quer dizer majoritariamente pobre, por nossas peculiaridades históricas. Não existe a mistura. Se um grupo de meninos negros chega ao Posto 10 e começa a fazer uma festa, no dia seguinte as pessoas vão se mudar para o Posto 11. É fato.
Há alguma mudança no discurso do início do século para cá?
Nenhuma. É muito este discurso, ainda, do “nós” e “eles”. Um sintoma desse incômodo foi o surgimento de uma praia “exclusiva” no ano passado. Outro exemplo: moro em São Conrado e me espantei com a mobilização dos moradores do bairro contra um conjunto habitacional que seria construído perto da Rocinha, alegando “que ia desvalorizar o bairro”. Ora, a Rocinha está lá muito antes desses moradores de São Conrado, e o discurso é o mesmo que encontro nos jornais do início do século passado, uma fala de faxina, de xenofobia. Parte de um pressuposto que o bairro tem donos e que eles é que decidem o que pode ou não ser construído ali. E ainda há essa ideia de que pobres desvalorizam o bairro. Por isso essa divisão de turmas em postos me chamou a atenção quando cheguei. A praia é um ambiente juridicamente democrático, mas não como prática social. Acho muito perigosa essa mistificação da praia como ambiente de harmonia social.
Há diferença dos primeiros “choques de ordem” para o controle atual?
A presença da polícia nas praias também é uma questão interessante. É uma longa relação da praia carioca com a polícia. A notícia de que vão revistar ônibus vindos da Zona Norte, por exemplo, caberia perfeitamente nos jornais que pesquisei em 1922. É a “taioba”. Os suburbanos podem ir à praia? Podem, mas são malvistos, maltratados. Tem esse primeiro “choque de ordem”, de 1917, que era mais de controle dos costumes, mas já gerava prisão. Depois, há algumas tentativas de moralização, com Getúlio Vargas, e a presença ostensiva da polícia na orla a partir dos anos 90, com os arrastões, até o choque de ordem mais recente, regulando as barracas, o queijo coalho, o frescobol.
O que mais chamou sua atenção nessa última onda de assaltos, que provocou imagens assustadoras de revolta dos frequentadores?
É claro que a violência tem de ser reprimida, evidente, não é para haver assaltos na praia, mas não dá para comparar com os arrastões dos anos 90. Me assustou a naturalização do preconceito nas redes sociais, como a fala de que “é um absurdo ter ônibus para o Alemão de 15 em 15 minutos”. Um pânico de perder a exclusividade da praia. E é interessante que isso aconteça justamente num momento em que há todo um discurso de retomada da cidade pelas UPPs. O problema é o uso moral do discurso que se faz em torno desses acontecimentos. Não é “vamos investigar o que provocou o episódio”, mas reprimir impedindo que determinadas pessoas tenham acesso. Esse episódio mobilizou discursos, atitudes e medos que estão na praia todos os dias, só não são ditos.

Os bastidores da Comissão da Verdade do Rio, criada há seis meses

  • De depoimentos de torturadores a palestras em escolas, saiba como ela funciona
Mariana Filgueiras (Email · Facebook · Twitter)
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RIO — Em junho de 1978, a Argentina estava dividida. O horror imposto pela ditadura militar não combinava com o clima de euforia que a Copa do Mundo exigia do país — além de sediar os jogos, a Argentina ainda levaria o título. Filho do jornalista Norberto Armando Habegger, que fazia denúncias importantes sobre violações de direitos humanos na época, o menino Andrés Habegger, então com 9 anos, começou a rascunhar um diário. Todos os dias, escrevia sobre o que via, fossem gols ou panelazos. No dia 31 de julho daquele ano, anotou que tinha ido ao aeroporto de Buenos Aires levar o pai, que iria para o Rio de Janeiro. Não sabia que se tratava de uma fuga. Muito menos que seria o último abraço.
Capturado por três agentes do governo argentino que estavam no Brasil — país então sob os auspícios do general Ernesto Geisel —, Norberto desapareceu no Rio de Janeiro sem qualquer explicação.
Andrés nunca mais retomou o diário. Exilou-se por sete anos com a mãe no México, mas jamais deixou de buscar informações sobre o sumiço de Norberto. Sem sucesso. Hoje cineasta renomado na Argentina, onde começou a rodar no ano passado seu décimo filme, “El imposible olvido”, sobre a história do pai, ele quis vir ao Rio assim que soube que havia sido fundada aqui uma Comissão Estadual da Verdade para apurar crimes ocorridos durante a ditadura militar. Era uma esperança de avançar nas investigações pessoais — ele não tem dúvidas de que o pai foi morto aqui, com a conivência das forças militares brasileiras.
Criada em 30 de abril deste ano, a Comissão Estadual da Verdade do Rio de Janeiro (CEV-Rio), assim como as 77 que surgiram nos últimos dois anos em outros estados e municípios do país, segue o modelo de funcionamento da primeira, a Comissão Nacional da Verdade, fundada em novembro de 2011 pela presidência da República. Ao longo de dois anos, sete membros titulares e outros 14 auxiliares devem apurar as violações ocorridas por agentes do Estado de 1964 a 1985, e produzir um relatório conclusivo ao final (o da Nacional será publicado no mês que vem).

— A Comissão do Rio foi uma das últimas a serem criadas, justamente no Rio, um dos estados que mais precisavam de uma. O golpe foi aqui, muitos arquivos estão aqui, muitos militares envolvidos moram até hoje no Leblon, em Ipanema... — justifica a advogada Nadine Borges, enviada da Comissão Nacional para ajudar a estruturar a do Rio, que não economizou telefonemas para convencer deputados e o próprio governador, Sérgio Cabral, a dar celeridade à criação do braço regional. — O Rio era rota tanto para tortura quanto para exílio. Foi onde o maior número de militantes desapareceu.
Desvendando a Operação Condor
O depoimento de Andrés, portanto, era de suma importância para a CEV-Rio. Suas investigações poderiam dar pistas sobre o paradeiro de outros 11 estrangeiros desaparecidos aqui na mesma época, além dos agentes brasileiros envolvidos no episódio. Mais: o caso Habegger seria um caminho para ajudar a esclarecer a maneira como as ditaduras latino-americanas atuavam em conjunto, na aliança político-militar conhecida como Operação Condor.
Sem verba própria, a comissão não tinha como trazer o cineasta. Deu-se um jeito: o Consulado da Argentina pagou a passagem, e a hospedagem foi improvisada na casa da secretária-executiva da CEV-Rio, Virna Plastino, que tinha um quarto livre. Assim, o argentino passou alguns dias no Rio trabalhando com os pesquisadores.
Na manhã de 30 de outubro passado, uma quarta-feira, Andrés deu um depoimento público no auditório da sede da comissão, que funciona em um andar de um prédio no Centro emprestado pela Ordem dos Advogados do Brasil (OAB).
Contou em detalhes o que sabia sobre o incidente, pouquíssimo conhecido no Brasil. Apresentou fotos e documentos de 35 anos de buscas. Foi inquirido pelos integrantes e recebeu até sugestões de investigação da plateia. Havia 18 pessoas no auditório, entre historiadores, estudantes e curiosos que tinham confirmado presença no evento pelo Facebook (a página da CEV-Rio tem 2.241 “seguidores”).
— Convivi a vida inteira com um pai desaparecido — emocionou-se Andrés. — O que sabemos é que ele foi detido por três militares argentinos, com a ajuda de militares brasileiros, e que hoje estão presos por outros crimes.
Ao final da sessão, Andrés recebeu um documento que tinha sido encontrado na tarde anterior no Arquivo Público do Estado pelo membro mais novo da comissão, o estudante de Sociologia Victor Guimarães, de 22 anos: um relatório do Centro de Informações da Aeronáutica (CISA), datado de agosto de 1977, que comprovava a existência de uma rede de informações entre as ditaduras da América do Sul naquele período específico. Inédito até para o governo argentino, o documento justificava a abertura de uma nova frente de pesquisa da comissão, exclusivamente sobre a Operação Condor.
— Vamos pesquisar a melhor maneira jurídica para ingressar no processo argentino, para apurar os nomes dos brasileiros que participaram do sequestro de Norberto — alegou o presidente da comissão, Wadih Damous, ao fim da audiência.
Era uma semana agitada na rotina da CEV-Rio. Depois do depoimento de Andrés, alguns integrantes do órgão tiveram tempo apenas para almoçar um sanduíche do Bob’s antes de entrar na reunião em que debatem a pauta da semana. Dos titulares, estavam presentes Nadine, Wadih, o advogado Marcelo Cerqueira, o jornalista Álvaro Caldas, o ex-senador Geraldo Cândido e o advogado João Ricardo Dornelles.
A garrafa de café acabou antes da metade do encontro, que durou duas horas. Participaram também alguns integrantes auxiliares, como Victor; o advogado Fábio Cascardo, de 27 anos, do grupo de trabalho que pretende transformar a Casa da Morte, de Petrópolis (local usado pelo Exército na ditadura para convencer militantes a virarem informantes, por meio de tortura), em Centro de Memória; e a pedagoga Ana Carolina Grangeia, de 24 anos, coordenadora das atividades pedagógicas (os membros visitam escolas públicas para falar sobre o trabalho).
É uma característica peculiar da comissão: entre os 20 integrantes, há profissionais de 75 anos, como Marcelo Cerqueira, trabalhando com jovens como Victor, Fábio ou Carol. Tudo intencional.
— Quisemos montar um grupo que desse continuidade a essas pautas para o resto de suas vidas. São jovens com atuação em militância e experiência em pesquisa. Eu não acredito que ninguém aqui vá virar um reacionário — ressalta Nadine, que formatou a equipe.
Além da vinda de Andrés (mais tarde, fariam até um churrasco para sua despedida), o assunto principal da reunião foi o evento do dia anterior, considerado o maior acerto da comissão em seis meses de funcionamento: uma audiência pública que desmontou, 41 anos depois, a versão oficial do episódio conhecido como Chacina de Quintino — com o mesmo auditório lotado de estudantes, parentes das vítimas (que também deram testemunhos) e curiosos.
Assim que a comissão começou a funcionar, em maio deste ano, uma das primeiras a bater à porta pedindo ajuda foi a professora de história Fátima Setúbal, de 60 anos. No dia 29 de março de 1972, ela teve um irmão militante da VAR-Palmares (a mesma organização a que pertenceu a presidente Dilma Rousseff) morto em suposto tiroteio dentro de uma casa em Quintino. Outras duas militantes também morreram no episódio. Segundo a versão oficial que consta do registro da Delegacia de Ordem Política e Social (Dops), agentes da Segurança Nacional foram recebidos a bala ao entrar no aparelho subversivo e, em legítima defesa, revidaram.
Como nunca aceitara a versão, Fátima foi procurar a comissão. Convencidos de que o caso merecia atenção, assessores foram a campo: vasculharam documentos de arquivos públicos; pediram ajuda à secretaria de Segurança Pública para levantar envolvidos ainda vivos (a resposta não foi enviada até hoje). Com o carro de Wadih, baixaram em Quintino para ouvir testemunhas (lá chegando, descobriram que o local fica em Cascadura, na verdade). Pediram ajuda à Comissão Nacional para mandar peritos de Brasília. Com base no depoimento do especialista que examinou os corpos no IML, localizado pelos pesquisadores, constatou-se que não havia resquício de pólvora na mão dos militantes. Assim, foi possível conhecer as reais circunstâncias das mortes.
— Essa é a verdade que vai passar a vigorar a partir de hoje. Não houve confronto, os militantes foram executados — declarou João Ricardo Dornelles, no final da audiência.
Com o resultado das investigações em mãos, só agora os parentes podem entrar com ações contra o Estado.
Tem sido essa a rotina do trabalho da Comissão da Verdade do Rio: caso a caso, de maneira ainda morosa, mas, de certa forma, eficaz — já que tem a prerrogativa de atuar como um órgão de Estado, com pleno acesso a documentos confidenciais e poder de convocar depoimentos. Os recursos financeiros são poucos — vinculada por decreto à Secretaria Estadual de Assistência Social e Direitos Humanos, custa por mês R$ 130 mil à pasta, que não recebeu acréscimo no orçamento para bancá-la. Além de emprestar a sala onde funciona a comissão, a OAB não cobra as contas de luz, água e telefone.
— Vamos pleitear uma verba própria, além de mais pesquisadores. A estrutura que temos é ínfima — reclama Wadih, que só conseguiu a cooperação da OAB por ter sido presidente da entidade no passado.
No dia seguinte ao depoimento de Andrés, às10h, três integrantes da comissão já estavam de luvas no Arquivo Público. A jornalista Denise Assis, coordenando o trabalho de Victor e Carol. Lá, eles têm uma salinha própria, com um computador, um scanner e um laptop. Victor passa o dia digitalizando documentos (muitos estão em péssimas condições de conservação). Carol os cataloga. Quando encontram algum que possa servir às frentes de pesquisa, mesmo de outras comissões, como a Nacional, o enviam na hora, por e-mail, aos pesquisadores responsáveis.
Como aconteceu com o cartaz usado pelo Dops para procurar o militante do PCB Fabio Oscar Marenco dos Santos em março de 1970, que usava por codinome “Emilio” ou “Baixinho” (cuja imagem ilustra a capa desta edição). O documento o descreve como “terrorista procurado” por estar envolvido em três episódios: uma tentativa de assalto a banco, um roubo de veículo e uma possível participação no sequestro do cônsul japonês Nobuo Okushi. Como o documento pode ser útil ao grupo de trabalho “mortos e desaparecidos políticos”, já foi salvo em uma pasta específica no computador.
A boa relação com outras Comissões da Verdade é primordial. Não à toa, a CEV-Rio tem feito lobby para que outras cidades tenham as suas. Niterói criou uma no dia 11 deste mês; e Volta Redonda, em 10 de outubro. As de Macaé e Campos já estão ativas. Estão em processo as de São Gonçalo e de Nova Iguaçu.
— É fundamental a presença de grupos trabalhando na Baixada, onde ficavam muitos aparelhos — diz Geraldo Cândido, logo depois de voltar de um encontro com vereadores de Caxias.
Na lista de atividades externas, há ainda visitas a instituições como Dops ou Doi-Codi, que a comissão pretende transformar em Centros de Memória, e o projeto para mudar os nomes de escolas públicas batizadas em homenagem a militares.
A primeira troca será feita no próximo dia 10, em parceria com a Secretaria de Direitos Humanos: o Colégio Estadual Presidente Costa e Silva, em Nova Iguaçu, vai ganhar o nome do ativista social Abdias Nascimento.
Outra frente são as visitas a escolas para palestras. A última ocorreu no dia 14, em seminário sobre a censura organizado por alunos da Faetec no Parque das Ruínas, em Santa Teresa. O principal convidado era o ex-preso político João Figueiró, sobrevivente de duas ditaduras (de 1945 e 1964), hoje com 88 anos. Fábio e Victor representavam a entidade (para alegria dos alunos, que não esperavam palestrantes tão jovens). Ao avaliar essa agenda, Nadine se entusiasma:
— No Brasil há um fomento da política do esquecimento como uma estratégia de Estado. Não vamos conseguir punir ou condenar porque não temos esse caráter. As pessoas tendem a achar que a Justiça é só o judiciário, mas a gente está fazendo justiça até quando fala nas escolas sobre as violações dos direitos humanos.
Cara a cara com o algoz
Ainda que não tenha localizado nenhum desaparecido político — o que seria, para seus integrantes, o ponto alto dos resultados, já que o Rio ainda tem 111 deles, entre casos emblemáticos, como Stuart Angel e Rubens Paiva — a Comissão já coleciona algumas conquistas em seus seis meses de funcionamento, além do desmantelamento da versão oficial da Chacina de Quintino. No dia 14 de agosto deste ano, seus integrantes, com a ajuda da Comissão Nacional, convocaram para prestar depoimento o coronel reformado Walter Jacarandá, acusado de ter assassinado o ex-dirigente do Partido Comunista Mário Alves.
Pela primeira vez na história, um militar reconheceu ter participado de sessões de tortura. Diante da filha da vítima, no entanto, negou ter responsabilidade na morte dele. Membro da CEV-Rio, Álvaro Caldas, que alega ter sido torturado por Jacarandá no início de 1970 nos porões do Doi-Codi, deu detalhes do seu suplício cara a cara com o torturador, que disse não tê-lo reconhecido.
Outra conquista foi a entrada presencial no Doi-Codi, no Centro do Rio, depois de terem sido barrados duas vezes, para entregar a oficiais do Exército um ofício com pedidos de esclarecimentos sobre incidentes ocorridos durante a ditadura — e este foi o único encontro entre a comissão e militares.
Agora, o objetivo é se debruçar sobre os casos prioritários: os desaparecimentos de Stuart Angel, Mário Alves, Rubens Paiva e o episódio da carta-bomba que explodiu no prédio da OAB, em 1980, matando a secretária Lyda Monteiro da Silva, na mesma sala onde hoje funciona a comissão.
Ah, esses ‘alienígenas’
O trabalho de passar os dias fuçando documentos da ditadura tem seus momentos curiosos. Noutro dia, a jornalista Denise Assis, integrante auxiliar da Comissão com vasta experiência em acervos, encontrou um documento confidencial do Dops, inédito, de 5 de julho de 1977, no Arquivo Público: um relato sobre a “propaganda psicológica” que a moda hippie usada pelos jovens “alienígenas” causava na sociedade. Como suas barbas, cabeleiras, calças jeans surradas, sandálias de pneu: “Essa moda tem uma significação de protesto, rejeitando os costumeiros trajes protocolares, da vida cotidiana, atuando sobre os sentidos, impressionando as massas, despertando-lhes agressividade (...). Onde seu comportamento positivo desce ao delírio, tanto estático, como furioso”. O relato nota que a moda hippie estava migrando para o “war-look”, “uma moda-soldado vinda do Vietnam”. Chama atenção, além do detalhamento dos tecidos e adereços, a conclusão do relator: “A propaganda é disseminada pelos ‘costureiros’, butiques, e os elementos do meio artístico-cultural e seus trajes ‘avançados’.
A presidente do Grupo Tortura Nunca Mais do Rio de Janeiro, Cecília Coimbra, comenta sobre a criação da Comissão da Verdade. Entrevista concedida em 21 de janeiro de 2010.

http://www.youtube.com/watch?v=DW_9F4vcBC0

Lei Antigay na Rússia



   Em junho desse ano, Vladimir Putin, assinou uma nova lei que proíbe qualquer manifestação pública de homoafetividade. Em resumo, o Artigo 6.21 do Código de Violações Legais Administrativas da Federação Russa permite ao governo multar pessoas acusadas de espalhar “propaganda de relações sexuais não tradicionais entre menores”, com valores entre 4 mil a 1 milhão de rublos (120 a 30 mil). Além disso, uma disposição da lei especifica que os estrangeiros gays ou pró-gays podem ser presos por até 14 dias antes de serem deportados do país.

   Apesar das ações e sentimentos antigay estarem crescendo há anos — essa lei federal vem na esteira de uma série de leis regionais similares, que foram promulgadas em São Petersburgo e em outras cidades desde 2006 —, essa lei levou a questão a novas alturas: em julho, o grupo Spectrum Aliança de Direitos Humanos (SHRA, por sua sigla em inglês), uma organização sediada nos Estados Unidos que defende os direitos LGBT na Europa oriental, ajudou a chamar atenção internacional para um grupo chamado Occupy Pedophilia.

   Liderado pelo notório neonazista russo “Tesak” (“O Machadinha”) Martsinkevich, o grupo tem usado as redes sociais, especialmente a VKontakte (um subproduto russo do Facebook), para postar falsos anúncios de encontros para atrair homens gays. Uma vez frente-a-frente com os homens, os membros do grupo os interrogam e os torturam, e um vídeo do encontro é postado no Youtube. Esse é um dos vídeos do final de julho:




   Recentemente, em virtude dos Jogos Olímpicos de Inverno do ano que vem (que será em Sochi, -Rússia) e por ter muitos atletas assumidamente gays, a organização All Out” lançou a campanha #LoveAlwaysWins, fazendo um chamado para que o Comitê Olímpico Internacional se posicione contra a lei ‘anti-gay’, com um belo vídeo que mostra uma atleta imaginando a comemoração do ganho de uma medalha com sua companheira, para logo depois perceber que não poderia fazer isso na Rússia


IMAGENS DA PRISÃO DE HARUN FAROCKI

Para quem não conhece ou ainda não viu, indico o filme 'Imagens da Prisão' de Harun Farocki. O cineasta tcheco trabalha neste documentário com imagens de câmeras de vigilância de prisões, lançando um olhar crítico sobre as práticas disciplinares neste estabelecimentos.



Link para download:
http://www.bestdocs.com.br/2009/09/imagens-da-prisao.html
Governador do Mato Grosso do Sul promete uma medalha "para cada bandido mandado ao inferno" pela PM do estado.

Em: http://www.portalitaberaba.com/brasil/governador-do-mato-grosso-do-sul-promete-uma-medalha-para-cada-bandido-mandado-ao-inferno

Quem é o criminoso?

No filme Minority Report (2002) O assassinato foi banido, pois há a divisão pré-crime, um setor da polícia onde o futuro é visualizado através de paranormais, os precogs, e o culpado é punido antes do crime ter sido cometido.  

Quem são os paranormais da atualidade e quem são seus culpados preferidos?

Minority Report - Clique aqui para ver o Trailer


Cresce o número de mulheres soldados, mas os problemas não diminuem


"Fardadas e de fuzil na mão, as mulheres podem passar despercebidas no meio de uma tropa, embora estejam conquistando cada vez mais espaço dentro das Forças Armadas em diferentes países do mundo. [Entretanto] elas continuam sofrendo preconceito (...) e os casos de estupro são frequentes".

Trecho extraído da reportagem de 'BRASIL EM FOCO - Edição Digital', publicada na quarta-feira, dia 27 de novembro de 2013 às 21:51. Link: http://www.brasilemfoco.com.br/arquivos/vejam-as-fotos-de-mulheres-soldados-de-diversos-paises-e-uma-conquista-mas-problemas-e-preconceitos-continuam-a-existir

quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

Peitando a moral: por que o topless ainda causa mal estar e é reprimido pelo estado
  • Prática desembarcou nas praias cariocas no fim dos anos 1970
Pedro Sprejer (Email · Facebook · Twitter)
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Em novembro, a atriz Cristina Flores foi obrigada a se vestir enquanto tirava uma foto sem camisa no Arpoador para divulgar sua peça
Foto: Divulgação
Em novembro, a atriz Cristina Flores foi obrigada a se vestir enquanto tirava uma foto sem camisa no Arpoador para divulgar sua peça Divulgação
RIO - Um par de seios à mostra, mais uma vez, gerou discórdia na orla carioca. O episódio aconteceu na Praia do Arpoador, no dia 14 do mês passado. Na ocasião, os atores Cristina Flores e Álamo Facó posavam para a campanha de divulgação da peça “Cosmocartas”, estrelada pelos dois. O sol se punha, havia pouca gente na areia. Bastou que ela tirasse a blusa para uma foto para o tempo fechar.
— Do nada, vieram três policiais, mais do que um por seio. O que falou conosco parecia assustado. Disse que havia crianças e famílias ali, e que o que eu estava fazendo era obsceno. Fiquei muito constrangida, me senti pega num delito — conta Cristina, que tem 37 anos, não costuma ir à praia e nunca havia feito topless.

Treze anos depois, a mesma questão retorna às praias. E a lei continua não sendo clara. O crime de ato obsceno tem pena estipulada entre três meses e um ano de prisão, ou multa. Mas, para o especialista em Direito Civil Leonardo Ribeiro da Luz, o tema se encontra numa situação jurídica nebulosa.Caso Cristina não houvesse acatado a ordem do policial de colocar a blusa, poderia ter passado pela mesma dor de cabeça que a vendedora Rosemeri Moura da Costa passou. Em janeiro de 2000, ela foi detida quando fazia topless na Praia da Reserva. Na época, a prisão gerou furor e trouxe de volta a discussão sobre o topless. O então prefeito Luiz Paulo Conde repudiou a ação e declarou que aquele seria o verão do topless. Houve protestos em apoio à Rosemeri (em Ipanema, um grupo de homens chegou a vestir biquínis) e o secretário de Segurança, Josias Quintal, determinou que a PM não interviesse mais em casos do tipo.
— O nosso Código Penal data dos anos 1940. Foi feito para um outro mundo. Muito do que era ato obsceno naquela época já deixou de ser.
Há 33 anos, a novela “Água Viva” (atualmente em reprise no canal Viva), exibiu uma cena na qual as atrizes Tonia Carrero, Maria Padilha e Maria Zilda Bethlem tiravam a parte de cima do biquíni na praia e eram achacadas por banhistas e reprimidas por um guarda grosseiro.
— A cena causou polêmica na época. E, na minha opinião, poderia ter sido escrita hoje. Quem era contra o topless em 80, ainda é — conta o autor da novela, Gilberto Braga.
A atriz Maria Padilha concorda:
— O tema não envelheceu. O topless, infelizmente, não colou por aqui. Hoje, temos uma presidente mulher, mas a liberdade de ficar à vontade na praia, ainda não conquistamos.
O topless desaguou nas praias do Rio com a maré libertária de fins dos anos 70. De volta do exílio em 1979, Fernando Gabeira frequentou as areias vanguardistas de Ipanema e atribui um fundo político ao gesto:
— O topless não deixava de ser um desdobramento do movimento feminista, da decisão de rasgar o sutiã.
O historiador Luiz Antônio Simas lembra que o topless ficou restrito a uma minoria por ser um comportamento que nunca se adequou à moralidade dominante na cidade:
— É preciso quebrar o mito tropical do carioca como um libertário em relação ao corpo. É uma construção ilusória, uma imagem turística da cidade, especialmente no carnaval. O Rio nunca foi o Posto 9.
Algumas das mulheres que peitaram a moral dominante sofreram represálias. No verão de 1980, banhistas enfurecidos quase lincharam jovens que faziam topless em Ipanema. A confusão foi parar nos jornais e acabou inspirando a cena escrita por Gilberto Braga. A estilista Verônica Maieski foi uma das vítimas da revolta contra o topless:
— Foi muito violento. Homens, meninos e até outras mulheres nos cercavam gritando “joga areia na Geni”.
A polícia dispersou os linchadores — e, por incrível que pareça, assegurou o topless. Pouco depois, Vêronica deixou o Brasil. Hoje, vive na Espanha — onde o topless é corriqueiro — e é dona de uma confecção de biquínis à moda brasileira. Sim, nossos diminutos biquínis fazem sucesso por lá.
A antropóloga Mirian Goldenberg, autora de “Toda mulher é meio Leila Diniz”, ressalta que a exibição do corpo, entre nós, está mais ligada à sexualidade do que à liberdade.
— A moralidade que temos hoje é mais relacionada ao tipo de corpo que pode ser exibido. Enquanto o corpo da brasileira for tão sexualizado, ele nunca vai ser livre para ser exposto totalmente — explica Mirian, que cita a Marcha das Vadias como uma manifestação atual na qual o corpo ganha um sentido libertário. — Elas mostram os seios e dizem: “O nosso corpo nos pertence.”
Integrante da Articulação de Mulheres Brasileiras, a historiadora Nataraj Trinta também vê uma sexualização excessiva na forma como o corpo feminino é encarado em nosso país tropical:
— No Brasil, a nudez, especialmente a feminina, usualmente é entendida ou como convite ou como um insulto.
Com o verão chegando, resta saber se o topless enfim verá a luz do sol livremente. Ou se, evocando o nosso maior “reacionário” Nelson Rodrigues, toda nudez ainda será castigada na orla carioca.


em http://oglobo.globo.com/rio/peitando-moral-por-que-topless-ainda-causa-mal-estar-e-reprimido-pelo-estado-10920313#ixzz2mZ2vqA2M 
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Professora sofre preconceito por ser mulher e negra


Depois de passar pela situação no bar, ela ficou tentando entender porque tinha passado por aquelo, pensou na sua postura e no que poderia ter feito de errado, mas na verdade ela não fez nada de errado, ela sofreu preconceito por ser mulher e por ser negra.

E não se trata de um caso isolado, a professora afirma que não foi a primeira vez que passou por esse constrangimento, ela disse: "um cara me chamou para fazer um programa no ponto de ônibus uma vez. Aí eu falei: “Não sou prostituta”. E ele falou: “Não sei por que você está indignada, mulher preta é pra comer, não pra casar”.

Leiam a reportagem no link abaixo:

http://www.pragmatismopolitico.com.br/2013/11/professora-negra-humilhada-ele-agiu-como-se-escolhesse-uma-escrava.html