terça-feira, 31 de maio de 2016

Entrevista com o ex-goleiro Bruno do Flamengo na cadeia: seu dia-a-dia no sistema penal e na APAC

Nas últimas semana, li uma reportagem que me chamou muito a atenção. Trata-se da entrevista realizada pelo globoesporte.com com o ex-goleiro do Flamengo, Bruno Fernandes. Essa entrevista traz ao público momentos da passagem de Bruno na Penitenciária Nelson Hungria, quando ele recebeu uma facada, viveu a depressão e uma tentativa de suicídio.

Além disso, o globoesporte.com traz um relato sobre a APAC (Associação de Proteção e Assistência ao Condenado). Segundo a reportagem, a APAC é "uma ONG que administra prisões e trabalha em conjunto com diversos estados e os respectivos tribunais de justiça buscando 'a humanização no cumprimento das penas privativas de liberdade'. O método tem inúmeros elementos, mas principalmente a confiança no detento, que passa a ser tratado pelo nome, usa crachá, não enverga uniformes da secretaria penitenciária e não passa pelas privações e lotações do sistema comum." Ao longo do cumprimento da pena na APAC, os homens que ali dão entrada não são chamados de presos ou detentos, e sim, de recuperandos.

Por fim, vale destacar que o lema da instituição é: "Aqui entra o homem, o delito fica lá fora". O índice de recuperação na APAC chega a 85%. Um número bastante elevado se compararmos com as outras instituições de cumprimento de pena no Brasil, onde os índices de reincidência chegam a 70%.

Para maiores detalhes, ver a reportagem e os vídeos: http://globoesporte.globo.com/noticia/2016/05/bruno-na-cadeia-tentativa-de-suicidio-facada-faxina-e-reencontro-com-bola.html

segunda-feira, 30 de maio de 2016

Cultura do estupro, machismo e sociedade patriarcal

Essa semana foi marcada por um crime de horror na nossa cidade. Uma adolescente de 16 anos foi estuprada por 33 homens. Ontem quando vi o jornal na televisão, só o que vi foi o escárnio e deboche de 2 dos homens suspeitos que foram se apresentar a polícia. Debochando na cara de pau, homens que acreditam na impunidade. Raí de Souza já admitiu ter divulgado as imagens da adolescente, um vídeo em que ela aparece desacordada e com a genitália machucada, e foi liberado logo depois de prestar depoimento.
"Questionado sobre por quê a Polícia Civil ainda não pediu a prisão dos envolvidos no caso que já foram identificados, Beltrame afirmou que faltam "detalhes jurídicos" para isso."
Uma dúvida minha: eu não entendi se um deles já confessou que divulgou o vídeo, porque ele não foi preso se já assumiu esse crime?

http://g1.globo.com/rio-de-janeiro/noticia/2016/05/jovem-vai-policia-e-se-diz-autor-de-video-com-adolescente-no-rio.html

Além disso, podemos observar como a cultura do estupro é enraizada na nossa sociedade machista e patriarcal, e infelizmente, é forte e age até em lugares que ela não poderia agir. A jovem que sofreu tamanha violência, relatou na matéria abaixo que quando chegou à delegacia, lugar que devia fazer ela se sentir segura e acolhida, que ela não se sentiu a vontade em momento nenhum, que era como se ela tivesse culpa de ter sido estuprada.
Não só na delegacia, mas no dia a dia, quando vamos entrar no facebook, nos deparamos com posts que refletem a cultura do estupro e por algum momento, tentam justificar esse crime horrível que é injustificável.
Tem um vídeo provando tudo o que a vítima tá falando. Tem um vídeo dela desacordada e com a genitália machucada. Tem um vídeo desses homens debochando da situação e da dor dela. Eu não sei o que mais é necessário para a versão dela ter a merecida credibilidade da sociedade. Nascer homem, talvez?!

http://g1.globo.com/rio-de-janeiro/noticia/2016/05/o-proprio-delegado-me-culpou-diz-menor-que-sofreu-estupro-no-rio.html

terça-feira, 24 de maio de 2016

Evento na EMERJ


Link para inscrição: http://www.emerj.tjrj.jus.br/paginas/eventos/eventos2016/a-privatizacao-dos-presidios-novo-modelo-de-gestao-prisional.html

quarta-feira, 18 de maio de 2016

Violência policial contra manifestantes em Porto Alegre

Na semana passada, Porto Alegre teve dois casos graves de repressão de manifestações pela Polícia Militar (lá chamada de Brigada). O relato dessas meninas detidas é excelente para verificarmos o processo de criminalização e a violência estatal sobre movimentos sociais: http://www.sul21.com.br/jornal/jovens-detidas-em-ato-contra-temer-relatam-momentos-de-terror-nas-maos-da-bm/

segunda-feira, 9 de maio de 2016

Pacientes do Heitor Carrilho não tem para onde ir

 Esquecidos pela família, liberdade é inútil para internos que cumpriram pena no antigo manicômio judiciário


A primeira pergunta de Edilson da Silva é se os bancos ainda estão em greve. Com a resposta afirmativa, ele coloca a mão na cabeça e diz que quer comer pão com mortadela. Logo em seguida, tira do bolso uma carteira com a estampa do Flamengo. Dentro, não há dinheiro, e sim sua identidade, que acabou de receber, aos 26 anos. Mostra com orgulho o documento, mas abre um sorriso quando revela o que tem no outro bolso da calça: um recorte de um anúncio do videogame que sonha comprar. Um dos 69 pacientes do antigo Hospital de Custódia e Tratamento Psiquiátrico Heitor Carrilho — hoje transformado em instituto de pesquisa e abrigo —, Edilson passou por uma perícia psiquiátrica e já poderia estar em liberdade há quase dois anos. Mas continua no abrigo como muitos companheiros dali, que perderam por completo o contato com a família.

— A medida de segurança (o período de reclusão) deles já foi cumprida, mas a maior dificuldade é encontrar os parentes a partir de relatos que eles nos trazem. Muitos pacientes fantasiam as histórias que contam — explica a psicóloga Monica Souza Tostes, coordenadora do Heitor Carrilho, o mais antigo hospital do sistema prisional brasileiro, inaugurado em 1921.

Edilson não sabe onde estão os pais. Antes de ser preso, por roubar o alumínio da janela de uma cabine de polícia no Leblon, morava numa Kombi abandonada no Morro Pavão-Pavãozinho. Aos amigos e médicos do Heitor Carrilho, repetia, com frequência, relatos sobre uma família que o ajudava nessa época. Depois de muitas buscas em meio a informações desencontradas, Simone Hilário Souza foi localizada na comunidade em Copacabana.

— Ele sempre frequentou a minha casa e convivia com a minha família. De repente sumiu. Achei até que tivesse morrido. Agora que sabemos o que passou, não podemos abandoná-lo. Ele vai construir um quartinho aqui na minha laje — conta Simone, de 43 anos, que cuida sozinha de sete filhos e trabalha lavando roupa e fazendo faxina, esporadicamente.

No começo de outubro, Edilson subiu mais uma vez o morro, dessa vez para aguardar um caminhão com material de construção. Ele mesmo pagou a compra usando parte do benefício de um salário mínimo que recebe — dinheiro que fica sob a administração do hospital. Estava ansiosíssimo. Subiu e desceu os quatro andares do prédio onde Simone mora incontáveis vezes. Só parou quando deixaram que ele usasse o computador.

— Vou jogar Mario Bros — disse, mostrando desenvoltura com a máquina, posicionada no único cômodo da casa, decorada com bichinhos de pelúcia, um pôster do grupo funk Bonde da Madrugada e muitos troféus de um dos filhos de Simone, que é campeão de jiu-jítsu.

Quando terminar a obra, Edilson vai poder deixar, finalmente, o abrigo onde mora desde 2009. Mas o destino dele está longe de ser o dos outros internos do Heitor Carrilho. São poucos os que têm certidões de nascimento, recebem benefícios ou visitas. Alguns vieram de outros estados e nunca tiveram nem conhecidos localizados. Outros não conseguem lembrar o nome dos parentes mais próximos. Carlos Almeida de Freitas, de 66 anos, por exemplo, furtou uma bicicleta em 1992 e foi encaminhado para tratamento psiquiátrico. Ganhou liberdade há 13 anos, mas não tem para onde ir. A esperança dos internos, e de quem cuida deles, é que uma foto ou nome divulgado possa chegar aos olhos e ouvidos de parentes.
Quando a acusação é de um homicídio de um membro da própria família, a situação é ainda mais grave. Por causa de um crime desse tipo, Glaucia Maria Lage Teixeira foi abandonada pela família há oito anos. Aos 28 anos, ela se comporta como uma criança. Não consegue fazer sozinha as atividades mais simples do dia a dia, como tomar banho ou pentear o cabelo. Alterna momentos de agitação e silêncio. Gosta da cor rosa e não sai de sua cama sem um maço de cigarros, que guarda estrategicamente dentro do sutiã. Com o isqueiro que usa para fumar, Glaucia um dia ateou fogo na própria saia.
— É, não deveria ter feito isso. Doeu — murmurou a moça, conferindo se o pacote continuava no mesmo lugar e soltando uma gargalhada logo depois.
No dia 8 de outubro passado, o antigo manicômio virou Instituto de Perícias Heitor Carrilho. Os pacientes que permaneceram terão que deixar o local. Ainda não há prazo determinado para isso, mas os esforços estão sendo redobrados. Edilson, que vai morar no Pavão-Pavãozinho, deve continuar frequentando um serviço de saúde mental. Outros precisam ser encaminhados para residências terapêuticas com assistência 24 horas que são indicadas em situações de ausência de família ou de amigos, de acordo com a lei federal 10.216, de 2001.

A desinformação e o tabu em torno da doença mental dificultam ainda mais o processo, principalmente em casos como o de Eliane Silvino da Silva, que matou uma funcionária da clínica onde recebia acompanhamento médico, 24 anos atrás. Aos 52 anos, ela passou quase metade da vida internada em hospitais psiquiátricos. Durante a visita dos repórteres ao Heitor Carrilho, no início deste mês (autorizada pela Secretaria estadual de Administração Penitenciária), Eliane pediu, repetidamente, que o fotógrafo registrasse uma imagem sua. Disse que gostaria de levar todos os amigos para fora dali, para uma residência terapêutica. Ajeitou o vestido pelo menos três vezes. Sorriu e quis saber:
— Lá não tem eletrochoque não, né? — perguntou, referindo-se a eletroconvulsoterapia, indicada para indivíduos que sofrem de doenças mentais e que tenham depressão grave e risco de suicídio.
Dados preliminares de um estudo que está sendo conduzido pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) mostram que, entre as pessoas com transtornos mentais, a taxa de reincidência de crimes é menor do que 5%. A diferença para o sistema penitenciário tradicional é impressionante: lá, o índice pode chegar a 70%.
— Existe um grande preconceito em torno dessas pessoas. É preciso desconstruir a ideia de que todos eles são perigosos para a sociedade e examinar cada indivíduo e seu histórico — afirma a psiquiatra Kátia Mecler, autora da pesquisa da UFRJ e diretora do Instituto de Perícias Heitor Carrilho.
José Alvez está em reclusão há quase cinco décadas, tempo que ultrapassa a pena máxima estabelecida pelo regime jurídico brasileiro, de 30 anos. Preso em junho de 1964, depois de ser acusado por um homicídio, ele já poderia estar fora de um hospital penitenciário há 18 anos. No entanto, ainda espera uma solução para o seu destino.
— A família geralmente abandona essa pessoa, que passa a ter, no ambiente desse hospital-presídio, sua única esfera de convivência, em um total alheamento do mundo exterior — analisa Débora Diniz, antropóloga da Universidade de Brasília (UnB) e coordenadora de um estudo sobre os hospitais de custódia e tratamento psiquiátricos no país. — Deve haver, na minha opinião, um trabalho de parceria entre a Justiça e a Saúde, entre o sistema prisional e o sistema de cuidados em saúde. Essas pessoas encontram-se em um limbo, em um ponto nebuloso entre esses dois mundos: o da infração penal e o da demanda por cuidado psicoterapêutico.

Fonte: http://oglobo.globo.com/rio/pacientes-do-heitor-carrilho-nao-tem-para-onde-ir-10438909

quinta-feira, 5 de maio de 2016

Programas de Pós-graduação em Psicologia de todo o país posicionam-se contrários à apologia da tortura feita pelo deputado Jair Bolsonaro.

NOTA DE REPÚDIO

Os Programas de Pós-Graduação abaixo assinados, vinculados à Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Psicologia, manifestam seu veemente repúdio à “homenagem” pública a um notório assassino e torturador, prestada pelo Deputado Jair Bolsonaro no domingo, 17 de abril, ao declarar seu voto pelo Impeachment da presidenta Dilma, durante sessão da Câmara de Deputados, em Brasília. Situações como esta não podem ser banalizadas, dando a falsa impressão de que se trata de “liberdade de expressão”, quando, na verdade, envolve incitação ao ódio e à violência em nome de uma “pseudodemocracia”.

Independentemente das posições favoráveis ou contrárias ao atual governo, afirmamos que a liberdade de expressão não é um "vale tudo" que pode beirar a barbárie, como na atitude ignóbil do Deputado na referida declaração.

Em 27 de abril de 2016.


PPG Psicologia Social e Institucional da Universidade Federal do Rio Grande do Sul UFRGS
PPG Psicologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul UFRGS
PPG Psicanálise, Clínica e Cultura da Universidade Federal do Rio Grande do Sul UFRGS
PPG Psicologia da Universidade Federal de Santa Maria UFSM
PPG Psicologia da Universidade do Vale do Rio dos Sinos UNISINOS
PPG Psicologia da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul PUCRS
PPG Psicologia da Universidade Federal de Santa Catarina UFSC
PPG Análise do Comportamento da Universidade Estadual de Londrina UEL
PPG Psicologia da Pontifícia Universidade Católica de Campinas PUCC
PPG Psicologia Experimental da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo PUCSP
PPG Psicologia Social da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo PUCSP
PPG Psicologia da Saúde da Universidade Metodista de São Paulo UMESP
PPG Psicologia da Universidade Estadual Paulista UNESP/Assis,SP
PPG Psicologia da Universidade São Francisco USF / SP
PPG Neurociências Cognitivas e Comportamento da Universidade de São Paulo USP
PPG Psicologia Clínica da Universidade de São Paulo USP
PPG Psicologia Escolar e do Desenvolvimento Humano da Universidade de São Paulo USP
PPG Psicologia Experimental da Universidade de São Paulo USP
PPG Psicologia Social da Universidade de São Paulo USP
PPG Psicobiologia da Universidade de São Paulo de Ribeirão Preto USP/RP
PPG Psicologia da Universidade de São Paulo de Ribeirão Preto USP/RP
PPG Mestrado Profissional em Análise do Comportamento Aplicada da Associação Paradigma SP
PPG História das Ciências e da Saúde da Fundação Oswaldo Cruz FIOCRUZ
PPG Psicologia da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro PUCRJ
PPG Psicanálise da Universidade do Estado do Rio de Janeiro UERJ
PPG Psicologia Social da Universidade do Estado do Rio de Janeiro UERJ
PPG Psicologia da Universidade Federal Fluminense UFF
PPG Psicologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro UFRJ
PPG Teoria Psicanalítica da Universidade Federal do Rio de Janeiro UFRJ
PPG Psicologia da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro UFRRJ
PPG Psicologia da Universidade Salgado de Oliveira UNIVERSO RJ
PPG Psicologia da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais PUCMG
PPG Psicologia da Universidade Federal de Juiz de Fora UFJF
PPG Psicologia da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul UFMS
PPG Psicologia da Universidade Federal de Goiás (UFG)
PPG Psicologia da Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC Goiás)
PPG Psicologia da Universidade Católica de Brasília UCB
PPG Psicologia do Centro Universitário de Brasília UniCEUB
PPG Ciências do Comportamento da Universidade de Brasília UnB
PPG Processos de Desenvolvimento Humano e Saúde da Universidade de Brasília UnB
PPG Psicologia Clínica da Universidade de Brasília UnB
PPG Psicologia Social, do Trabalho e das Organizações da Universidade de Brasília UnB
PPG Psicologia da Universidade Federal de Alagoas UFAL
PPG Psicologia da Universidade Federal de Pernambuco UFPE
PPG Psicologia Social da Universidade Federal da Paraíba UFPB
PPG Psicobiologia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte UFRN
PPG Psicologia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte UFRN
PPG Psicologia da Universidade Federal do Ceará UFC
PPG Psicologia da Universidade de Fortaleza UNIFOR
PPG Psicologia da Universidade Federal do Maranhão UFM
PPG Psicologia da Universidade Federal do Pará UFPA
PPG Psicologia da Universidade Federal de Rondônia UNIR

Nota pública do MEC