domingo, 26 de novembro de 2017

DIZ EM CIDADE QUE VOCÊ SE ENCAIXA, CIDADE ALTA OU CIDADE BAIXA ?

Moro no Leme, bairro privilegiado na zona Sul. Minha rua, é uma das últimas do pequeno bairro. Aquela que também tem acesso ao morro da Babilônia. Sempre me deparo, por vezes, com um carro de polícia na subida do morro, mas dessa vez foi diferente. Estava saindo da rua, quando um menino negro veio descendo a rua. Eu que já havia passado pelo policial, fiquei tentando observar aquela movimentação. O menino, como acho que todos que leem essa história já devem imaginar, foi parado pelo policial que o parou em uma revista. Eu de longe, continuei observando e permaneci ali ate que o ato se concretizasse e chegasse ao seu fim. O menino veio em minha direção e disse:
 - Obrigada tia, por ficar olhando.
- Que isso! Eu não fiz nada demais.
- Mas o seu nada demais me ajudou. Se você tivesse saído era provável que eu iria apanhar e sabe-se lá o que mais.

Acho que depois disso a Rua General Ribeiro Da Costa nunca mais foi a mesma pra mim. Me lembrei da aula,  de como os processos de criminalização atravessam nosso cotidiano. Não é mais a infração que julga quem será preso ou não. São traços individuais, inseridos em um contexto histórico-social que transformam o ato em condutas, o delito em maneiras de ser. Condutas e maneiras de ser essas que não transgridem a lei, mas sim, regras ético morais, criadas no imaginário social e que atravessam as linhas do racismo e da pobreza. Provavelmente, eu nunca serei parada em minha rua e revistada por um desses policiais. Afinal, eles estão ali em prol da defesa social dos daqui. Em prol dos da cidade baixa, onde eu me encaixo . E é assim que um mapeamento geográfico  do Rio determina se você será ou não um possível criminoso, um menor infrator ou um delinquente.
A rua nunca será a mesma pra mim realmente, mas ela nunca foi a mesma pra eles. Pode até ser por acaso que ela tenha um nome de um General. Mas que acaso é esse, inscrito  em uma contingência imprevisível que altera todo dia, em um devir,  a dinâmica da vida de quem mora mais ali do que aqui?

quinta-feira, 23 de novembro de 2017

Uma vida por vir: para além das grades do juízo


Por: Mateus Neto dos Reis

"Oh, senhor cidadão, eu quero saber, eu quero saber com quantos quilos de medo, com quantos quilos de medo se faz uma tradição?" ("Senhor Cidadão" - Tom Zé)

A cada vez que circulo pela cidade e me esbarro com um estudante de Direito, vejo que a espessura de seus livros cresceu duas vezes mais. Com dó de seus braços estirados aos limites, e que revelam o cansaço da tarefa de carregar os avolumados blocos de papel, reparo que o aumento do número de páginas me expõe, em sua mais nítida e assustadora concretude, aos investimentos na direção de judicializar a vida. Eu desejo chamar a atenção. A sua, minha, a dos estudantes do curso de Direito, de Psicologia, a atenção de qualquer um, para o fato de que uma vida extrapola as palavras, os papéis, os juízos, os juízes – e, acredite - a nós mesmos.

Aqueles que apreendem a tentativa de regulamentar uma vida jamais conseguirão esgotá-la de seus impreteríveis escapes. O escape é por natureza aquilo que é impossível de se conter. Quem viu algo escapar, só pôde o ver já escapando, em ato. Como num flagrante. Ou então, retrospectivamente. Não pôde prevê-lo, nem contê-lo, pois ele só ganha existência escapulindo. Uma vida, como um plano de pura imanência, para além do bem e do mal, e seus escapes inantecipáveis.

Ao circular pela cidade, os jovens psicólogos estão em contato com a vida pública em sua plena operação – na dependência do contato com pessoas que não escolheram. Estão lançados aos imprevistos. Na rua, pode ser que tropecem, que esbarrem, que sejam interpelados por alguém. Contudo, o que lhes acontecem? Como os jovens psicólogos se sentem ao exercer a vida pública?

As palavras deste texto berçam na aventura que é morar na cidade do Rio de Janeiro. E nascem, precisamente, daquilo que pude sentir ao viver na “Guanabara”. O medo é certamente um dos sentimentos que experimentei como transeunte, e como acanhado frequentador dos espaços cariocas. Suponho que você também já pôde sentir o sabor desse "medo urbano", que já provou de seu gosto amargo. Penso que talvez seja justamente aí, na malha fina do paladar, do sentir, que o jovem psicólogo encontre um território significativo a ser explorado. Sentir e pôr em questão o sabor, indagar-se sobre os procedimentos e mecanismos de produção afetiva, pôr em cheque a dimensão de "pré-coisa" da coisa. Equivocar o sentido acostumado do sentimento ao ponto de mergulhar os pés no Rio para sair desse ciclo vicioso. Ao ponto de sentir alguma coisa doce lhe penetrar, e pôr-se sensível às intensidades que cruzam para além e aquém do amargor do medo.

Tal incorporação do plano intensivo de forças na cartografia da subjetividade desafia o jovem psicólogo a entrever, como que por uma vertigem visionária, o compromisso ético-estético-político da Psicologia para com a vida. A ver o que Lombroso não viu: que o retrato dos presídios é efeito e não causa. E então procurar aliados, inconscientes que protestam, para que em nome ao direito a uma vida, inter-firam nos livros dos estudantes de Direito - assim como aponta Bicalho (2016) ao afirmar a atuação de uma Psicologia Jurídica nos processos de construção das leis. Lutar por microfissuras e pela criação de espaços abertos às singularidades deve ser sinônimo de fazer psicologia, ainda que jovem. Lutar com o intuito de dar a vida uma bossa nova: para além do pau, da pedra e do que parece ser o fim do caminho.


Referências:

BICALHO, P. P. G. "Da execução à construção das leis: a psicologia jurídica no legislativo brasileiro" In: Atualidades em Psicologia Jurídica. Rio de Janeiro: Nau, 2016, p. 1-15.

DELEUZE, G. "Imanência: Uma Vida..." Limiar, vol.2, nº 4, 2016.

terça-feira, 21 de novembro de 2017

quarta-feira, 8 de novembro de 2017

CCJ debate reforma do Código Penal

A reforma do Código Penal foi tema de audiência pública na Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania do Senado (CCJ) nesta segunda-feira (6). O relatório anterior será afastado e as sugestões dos participantes serão incorporadas ao novo texto, que deve ser apresentado até o fim do ano. O relator da proposta, senador Antônio Anastasia (PSDB-MG), disse que vai apresentar um novo texto buscando o equilíbrio entre o combate à impunidade e penas alternativas.

Fonte: Rádio do Senado (https://www12.senado.leg.br/radio/1/noticia/ccj-debate-reforma-do-codigo-penal)

terça-feira, 7 de novembro de 2017