domingo, 30 de outubro de 2016

Direitos Plurais em Perspectiva: sexualidade e violência

Vi esse evento no mural do IP e como muitxs podem passar direto distraídxs com preocupações na cabeça, estou divulgando ele aqui no Blog para caso alguém se interesse. Pareceu valer a pena! As inscrições são limitadas, então por isso venho com antecedência anunciá-lo aqui. Talvez nem mais com tanta antecedência assim, mas espero que não estejam esgotadas as vagas para participar.


Segue link do evento no facebook: https://www.facebook.com/events/669947473172176/

quinta-feira, 20 de outubro de 2016

Ni Una Menos. Vivas Nos Queremos!



Lucía Pérez, argentina de 16 anos foi mais uma vítima do feminicídio. Lucía foi drogada, estuprada até a morte e empalada, num dos crimes mais brutais já registrados na Argentina. O assassinato e estupro da adolescente causou grande comoção e reacendeu a luta contra o feminicídio, fazendo com que milhares de mulheres do país durante uma hora parassem suas atividades em uma greve que buscava repudiar a violência contra as mulheres.

Brasil, Chile, Peru e dezenas de outros países latinos americanos convocaram atos em solidariedade ao brutal feminicídio de Lucía Pérez e tantas outras mulheres que são mortas pelo machismo a cada novo dia, mas no mesmo dia em que essas grandes mobilizações tomaram as ruas de diversos países, o Brasil, que tem a taxa de feminicídios de 4,8 para 100 mil mulheres – a quinta maior no mundo, segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) registrava mais um dado para sua estatística de violência contra a mulher: Uma moradora de São Gonçalo sofreu um estupro coletivo por 10 homens enquanto se divertia num bar, fazendo com que surgissem diversos comentários responsabilizando-a pela brutalidade do que lhe aconteceu.

Esse é um momento de grande mobilização, luta e união das mulheres para reivindicar medidas contra a violência machista no Brasil e no mundo.  “Por que só nos restou marchar? […] O abandono das mulheres. E é um abandono sem fronteiras. Desamparadas pelo Estado, só nos restou sair às ruas. Marchar, emudecer, vestir preto. Se na Polônia foi a lei de aborto, na Argentina, é o feminicídio. Entre nós, há uma lista extensa, pararíamos o país diariamente. É a falência dos serviços de aborto legal, a epidemia do vírus zika, o feminicídio, todos temas considerados delicados para uma crise política e econômica, mas viscerais à sobrevivência das mulheres. Por que só nos restou marchar?

Fonte: http://www.brasilpost.com.br/debora-diniz/mulheres-marcha-argentina_b_12554950.html?1476881767

Fonte: http://g1.globo.com/rio-de-janeiro/noticia/2016/10/policia-investiga-estupro-coletivo-em-sao-goncalo-rj.html

Fonte: https://nacoesunidas.org/onu-feminicidio-brasil-quinto-maior-mundo-diretrizes-nacionais-buscam-solucao/

domingo, 16 de outubro de 2016

Preconceitos e suas consequências diárias

Quando viu que um passageiro duas fileiras à sua frente havia perdido a consciência e precisava de atendimento imediato, a obstetra e ginecologista americana Tamika Cross fez o que se espera de qualquer médico: imediatamente se prontificou a atende-lo. O que ela não esperava era esbarrar em uma doença mais difícil de curar do qualquer mal súbito:o preconceito.

Tamika é negra, e aparentemente não se encaixa na imagem que se imagina de um médico. Em um post no Facebook ela contou todo o ocorrido, em um vôo da companhia aérea Delta. Diante de um pedido de socorro da mulher do homem desacordado, Tamika se ofereceu para atende-lo imediatamente. Uma comissária de bordo, no entanto, primeiramente sequer considerou a oferta e, quando enfim compreendeu que se tratava de uma profissional para atende-lo, iniciou um verdadeiro interrogatório, como que para comprovar que se tratava de fato de uma médica.

Eu levantei minha mão para lhe chamar a atenção. Ela me disse: ‘ah, não, querida, abaixe sua mão, estamos procurando por um médico ou uma enfermeira ou alguém que possa atende-lo, não temos tempo de falar com você. Eu tentei lhe informar que eu sou médica, mas continuei a ser cortada com comentários condescendentes”, conta Tamika em seu post.

A cena continuou, enquanto o passageiro seguia necessitando de atendimento urgente. 

Ela disse: ‘ah, você é de fato médica?’”. Eu respondi que sim. Ela disse: “Deixa eu ver suas credenciais. Que tipo de médica você é? Onde você trabalha? Onde estava em Detroit? (Por favor, lembrem-se que o homem seguia precisando de ajuda e ela estava bloqueando o corredor impedindo que eu sequer ficasse em pé enquanto me bombardeava com perguntas”.

Outro médico ofereceu ajuda, que foi imediatamente aceita, sob a justificativa de que “ele tinha credenciais” – que evidentemente não foram mostradas em momento algum. Aparentemente o homem simplesmente “parecia” um médico, mais do que uma mulher negra. O paciente melhorou e ficou fora de perigo, e a comissária não só pediu imensas desculpas à médica como ofereceu milhas como uma indenização por seu lamentável comportamento.

Todo tipo de preconceito de fato torna-se responsável, direta ou indiretamente, por maus tratos e mortes em contextos diversos. Esse caso ilustra não só a absoluta ignorância mas também o perigo de se discriminar alguém por qualquer que seja o motivo – as consequências podem ser fatais.

sexta-feira, 14 de outubro de 2016

Quarto de despejo

A literatura de Carolina Maria de Jesus: do ‘Quarto de despejo’ para o mundo

Livro revê trajetória da catadora de lixo, que completaria 100 anos em 2014, e a repercussão internacional de sua obra




























http://oglobo.globo.com/cultura/livros/a-literatura-de-carolina-maria-de-jesus-do-quarto-de-despejo-para-mundo-13843687

RIO - Para uma escritora que viveu rotulada como “mulher, negra e favelada”, mãe solteira sem muita escolaridade, que tinha nos lixões do entorno da favela do Canindé, em São Paulo, onde morava, os meios de sustentar a família e a base de sua produção literária (ela levava para o barraco livros e cadernos que encontrava no lixo), pode-se dizer que Carolina Maria de Jesus (1914-1977) teve uma trajetória excepcional. Sua vida de escritora, apesar das muitas contradições do seu temperamento, fez dela um fenômeno editorial e midiático, algo contrastante com sua atividade de catadora de papel das ruas de São Paulo. Incomodada por ser vista por todos como “mendiga e suja”, dizia que, embora andasse suja, não era mendiga: “Mendigos pedem dinheiro; eu peço livros”.
Desde que apareceu para o mundo das letras com seu livro “Quarto de despejo”, no início da década de 1960 (precedido das reveladoras reportagens do jornalista Audálio Dantas), Carolina Maria de Jesus vem sendo alvo de diversos estudos no Brasil e no exterior. Esses estudos giram em torno da sua turbulenta vida de favelada e da sua extensa obra, que engloba autobiografia, memorialismo, poesias, contos, provérbios e romances. Publicou ainda “Casa de alvenaria”, “Journal de Bitita“ (póstumo, 1982, França) e “Meu estranho diário” (também póstumo, 1996, organizado por José Carlos Sebe Bom Meihy e Robert M. Levine), o que nos dá uma ideia dos muitos inéditos deixados pela escritora, traduzida para dezenas de idiomas, como o romeno, russo, japonês, inglês, sueco e alemão.

ELOGIOS DE CLARICE E ALBERTO MORAVIA
Sobre ela foram realizados alguns bons trabalhos, como o ensaio “Cinderela negra” (1994), de José Carlos Meihy e Robert Levine, e as biografias “Muito bem” (2007), de Eliana Moura de Castro e Marília Novais de Mata Machado, e “Uma escritora improvável” (2009), de Joel Rufino dos Santos. A melhor análise do fenômeno que foi essa escritora, cujo centenário de nascimento ocorre este ano, está em “A vida escrita de Carolina Maria de Jesus”, excelente estudo da pesquisadora Elzira Divina Perpétua, da Universidade Federal de Ouro Preto.
O trabalho de Perpétua é fruto de anos de dedicação à obra da escritora mineira, nascida em Sacramento, que se tornou conhecida a partir do primeiro livro, “Quarto de despejo”, seu diário com pormenores da vida numa favela brasileira. Falava de fome, miséria, abandono, violência, aguçando a curiosidade pública e o espanto geral da sociedade, numa época de grandes transformações — aqui com o advento da inauguração de Brasília, lá fora pelas radicais mudanças econômicas e geopolíticas.
Elzira Perpétua sabe captar, em “A vida escrita”, toda a efervescência desse contexto, situando a escritora favelada (ou a favelada escritora) no panorama da literatura, da política, da economia e da cultura do país. Ao mesmo tempo, trabalha com os textos dos diários, analisando o mundo em torno da autora, seus sonhos e aspirações, seus projetos pessoais. Revela, com base no pensamento da catadora, o comportamento de Carolina com os filhos e seu relacionamento com os vizinhos. Pontos altos de alegria se mesclam com picos de tristeza e depressão, na manifestação suicida, na desesperança por se sentir impotente e derrotada.
Mas em “A vida escrita” é a primeira parte do estudo, que aborda a produção e recepção do livro “Quarto de despejo”, que chama a atenção, especialmente no capítulo em que Perpétua trata das traduções da obra no exterior. É curioso observar que nos países onde “Quarto de despejo” apareceu, o título da obra ganhou conotações estranhíssimas, como “Lixo”, na Dinamarca; “Depósito”, na França; “Favela”, em Cuba; “Diário da miséria”, na Alemanha; “Além da compaixão”, no Reino Unido. No Japão, a obra foi batizada de “Karonina nikki”, ou “O Diário de Carolina”. Já na edição americana, o livro da escritora brasileira foi denominado de “Filha da escuridão” (Child of the dark).

Na Itália, Alberto Moravia, importante nome da literatura europeia, encontrou na obra de Carolina a palavra “de uma profundidade shakespeariana”. E, entre nós, uma Clarice Lispector ansiosa (na lembrança de Nélida Piñon) disse para Carolina, quando a conheceu numa sessão de autógrafos numa livraria carioca, que a escritora do Canindé escrevia de verdade ou escrevia a verdade, reforçando o poder de sua escrita.
O impacto de “Quarto de despejo” catapultou o sucesso de Carolina de Jesus para além das nossas fronteiras e dela mesma. Quando morreu, em 1977, morando em um sítio de sua propriedade, chegou a dizer que era melhor ter continuado a viver na favela. Em verdade, nunca lhe saíram da curtida pele os efeitos de sua pobre vida, como catadora de papel e intelectual da miséria.

*Uelinton Farias Alves é jornalista e escritor, e trabalha atualmente numa biografia sobre Carolina Maria de Jesus

A 13ª Emenda (13th, 2016) | Documentario Netflix - Trailer Legendado

A 13ª Emenda (13th, 2016) | Documentario Netflix - Trailer Legendado



04/10/2016 15h42 - Atualizado em 04/10/2016 15h42

Filme '13th' vai da escravidão até prisões em massa de negros dos EUA

Documentário é dirigido por Ava DuVernay, de 'Selma'.
Longa estreou no New York Film Festival e chega ao Netflix na sexta (7).


Cartaz do filme '13th' (Foto: Divulgação/Netflix)Cartaz do filme '13th' (Foto: Divulgação/Netflix)
Já se passaram 150 anos desde que a escravidão foi abolida oficialmente nos Estados Unidos, mas o documentário "13th" argumenta que o escravismo ainda está vivo no encarceramento em massa que afeta desproporcionalmente a população negra norte-americana.
O filme, produzido pelo serviço de streaming Netflix, estreou no dia 30 de setembro no New York Film Festival, nos EUA. Ele chega ao Netflix a partir da sexta-feira (7).
Usando imagens de televisão, música e entrevistas com acadêmicos, políticos e ex-prisioneiros, a diretora Ava DuVernay retrata os afro-americanos como pessoas que continuam escravizadas. Algo que remonta aos linchamentos, à luta pelos direitos civis, aos aprisionamentos por delitos de drogas, às leis 'pare e reviste' e ao surto atual de mortes de civis negros desarmados pelas mãos da polícia.
A população carcerária dos EUA foi de 357 mil pessoas em 1970 para 2,3 milhões em 2014, segundo o documentário. Enquanto os homens negros representam cerca de 6,6 por cento da população do país, atualmente equivalem a 40,2 por cento da população carcerária.
DuVernay, conhecida por ter dirigido "Selma", filme sobre direitos civis de 2014, cresceu no bairro de Compton, em Los Angeles, berço do rap da Costa Oeste dos EUA.
"Na comunidade na qual cresci, não pensamos em segurança quando vemos a polícia... então isso sempre esteve na minha mente, e como eu fui aluna de estudos afro-norte-americanos na Universidade da Califórnia em Los Angeles, pude usar essa experiência em um contexto histórico e cultural, e isso realmente solidificou meu interesse muito, muito profundo no espaço e nesse tema. Sempre soube que faria um filme sobre isso", disse.
O documentário deve seu título à 13ª emenda da Constituição dos EUA, que acabou com a escravidão em 1865.

quarta-feira, 12 de outubro de 2016

Criminalização do negro

O número crescente de negros mortos pela polícia tem motivado uma maior discussão sobre o assunto e ocasionado diversas manifestações e movimentos ativistas.
Notícias como: "PMs matam adolescentes negros já rendidos e com as mãos para o alto"¹ ou "Polícia atira em homem negro desarmado e rendido em Miami: Terapeuta ajudava um paciente com autismo quando foi rendido e atingido"² mostram a dualidade de como a polícia seja no Brasil ou no resto do mundo trata o crime(ou suposto crime) quando o acusado é negro e quando é branco. Basta acompanhar os jornais e ver que quando o suposto é branco a polícia raramente atira precipitadamente, mesmo que esteja colocando a vida de terceiros em risco e, mais raramente ainda matam³. Enquanto isso, negros muitas vezes morrem apenas por serem "suspeitos" ainda que a suspeita seja infundada ou que já tenham se rendido. E ainda há aqueles que digam que isso não seja culpa do racismo "Governador do Rio diz que assassinato de cinco jovens não foi racismo"4.

"Esses múltiplos casos tornam claro que há uma injustiça concreta em como os policias tratam pessoas brancas armadas versus pessoas negras armadas. E também prova que a desculpa padrão da policia sobre temer pela vida de alguém é feita sob medida para justificar a morte de pessoas negras, enquanto que sempre é dado o beneficio da dúvida às pessoas brancas".³

¹ http://ponte.org/pms-matam-adolescentes-negros-ja-rendidos-e-com-as-maos-para-o-alto-dizem-testemunhas/
² http://g1.globo.com/mundo/noticia/2016/07/policia-atira-em-homem-negro-desarmado-e-rendido-em-miami.html
³ http://usuncut.com/black-lives-matter/armed-white-people-survive-cops/ (o link é em inglês, mas o importante são os vídeos)
http://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2015-11/governador-diz-que-assassinato-de-5-jovens-nao-foi-racismo

terça-feira, 11 de outubro de 2016

Nesta sexta-feira, dia 14/10, na sala 2 do IP


g1.globo.com/rio-de-janeiro/noticia/2016/10/tiroteio-no-pavao-pavaozinho-faz-comercio-fechar-em-ipanema.html

E, de novo, a guerra às drogas continua fazendo vítimas. Essa política de combate mostra-se ineficiente. E não é de hoje. Apesar do título fútil do link, de uma mídia que pouco se importa com as vidas perdidas, a notícia traz a cobertura do confronto intenso entre traficantes e policiais que, literalmente, parou o trânsito, impedindo que o trabalhador (inclusive os moradores da favela) voltasse para sua casa. Isso sem considerar o banho de sangue promovido por esse confronto.

Seguimos com as ruas dos morros manchadas de sangue, pois como dizia D2 e BNegão, do grupo Planet Hemp:
"É muito fácil falar de coisas tão belas
De frente pro mar, mas de costas pra favela
De lá de cima o que se vê é um enorme mar de sangue
Chacinas brutais, uma porrada de sangue"

Ficamos com a esperança de que isso mude um dia.

terça-feira, 4 de outubro de 2016

Bolsonaro e Eugenia

http://m.extra.globo.com/noticias/brasil/contra-a-corrente/bolsonaro-defende-eugenia-uma-pratica-nazista-20233993.html

Nada melhor  (ou pior) que um Bolsonaro pra representar práticas de limpeza de grupos sociais marginalizados e criminalizados nossa sociedade. E como fazer isso? "Combatendo" a miséria e a violência por meio do impedimento da reprodução de beneficiados do bolsa família por meio de intervenção cirúrgica.
Tweet de 2014 e vereador mais votado nesse domingo no RJ, como tudo estivesse bem.

Crime social - a criminalização das identidades trans

Posto aqui um relato público da candidata a vereadora no Rio de Janeiro, Indianara Sophia, do PSOL. O texto é cru e muito forte, então peço que leiam com cuidado - pode ser gatilho para pessoas que se sentem diretamente atravessadas pela causa trans ou, como coloca Indianara, a causa das pessoas "transvestigêneres".

A criminalização das pessoas LGBTQI aparece de diversas formas na atualidade. Como aponta Indianara, é comum até hoje a desumanização dessas pessoas (com foco naquelas com questões de gênero) e, portanto, a sua marginalização. Em uma história de muita luta por direitos humanos básicos, transborda no relato a criminalização da diversidade de gênero. Em seu extremo, aparecem casos até de falsa incriminação.

É importante também lembrar que o Brasil é o país que mais mata pessoas LGBTQI no mundo, apesar de não haver lei que preveja a diversidade sexual e de gênero como crime. Diz uma notícia que "Apesar do Estado [de São Paulo] se destacar em relação aos outros, o crescimento de mortes é unânime em todas as capitais, ou seja, não foi registrada queda comparando 2005 com 2012, pelo contrário, os números no mínimo dobraram".

Diante de todas as discussões promovidas em sala, acho pertinente que falemos sobre essa população que tanto sofre para viver.