sexta-feira, 22 de junho de 2018

A vida imitando a arte ou a arte imitando a vida?

   Ao ler o livro "Sangue Azul - Morte e Corrupção na PM do Rio", que é uma autobiografia de um personagem -Rubens-, inspirado em um policial militar da vida real, se lê diversas situações que ocorrem no dia a dia de um policial do Rio de Janeiro. Neste caso, o policial deu entrada na corporação com o desejo de ser honesto, mas ao longo do livro acabou se vendo obrigado a fazer parte dos diversos esquemas de corrupção, que estavam por todos os lados.
   Nas últimas semanas me deparei com uma reportagem nas manchetes dos jornais que me chamou muito a atenção, pois foi impossível não fazer ligação desta notícia com um caso que foi contado no livro: a venda de armas e munição de policiais para traficantes. O conteúdo da reportagem era sobre um assalto que ocorreu no Nordeste no país, algo que seria corriqueiro se não fosse por um detalhe: as munições utilizadas nesse crime foram as mesmas utilizadas na execução da vereadora Marielle Franco em março de 2018 no Rio de Janeiro e também em uma guerra de facções de traficantes em São Gonçalo - RJ (exatamente como no livro), e pertenciam a um lote destinado para a Polícia Federal de Brasília. Isso nos leva a muitas questões: como os traficantes conseguem algo que deveria estar sob controle da Polícia? Como as munições conseguem ultrapassar a fiscalização e circularem livremente pelo país? Será que as cenas descritas no livro continuam ocorrendo dentro da corporação? E quantos Rubens - pessoas que se tornam policiais para fazerem a defesa da população de forma limpa e honesta, e acabam se decepcionando e mudando sua forma de agir devido ao ambiente de trabalho em que se encontram- devem existir por aí?
    Notícias e artigos sobre o assunto podem ser vistos abaixo*:

https://www.cartacapital.com.br/sociedade/maioria-das-armas-dos-traficantes-vem-de-dentro-do-pais
https://www.marcoaureliodeca.com.br/2013/03/09/armas-da-policia-nas-maos-de-bandidos/
https://extra.globo.com/casos-de-policia/lote-de-municao-que-matou-marielle-foi-usado-pelo-trafico-em-sao-goncalo-22499615.html
https://odia.ig.com.br/_conteudo/rio-de-janeiro/2017-05-05/fuzil-de-elite-da-policia-do-rio-esta-na-lista-de-apreensoes-na-cidade-alta.html



* Infelizmente não consegui encontrar o link da notícia sobre o assalto

Rafaela do Nascimento Silva

segunda-feira, 18 de junho de 2018

OMS retira a transexualidade da lista de doenças mentais

Organização Mundial da Saúde (OMS) deixou de considerar a transexualidade como um transtorno mental e reconheceu o vício em videogames como um distúrbio de comportamento, segundo a nova edição da Classificação Internacional de Doenças (CID), publicada nesta segunda-feira. A última revisão desta norma havia sido feita 28 anos atrás. Durante a última década, especialistas analisaram as informações científicas mais recentes para criar um novo padrão que pudesse ser usado por profissionais da saúde do mundo inteiro. Cada país, no entanto, precisa se adaptar à nova CID, com prazo até 1º. de janeiro de 2022.


https://brasil.elpais.com/brasil/2018/06/18/internacional/1529346704_000097.html

domingo, 17 de junho de 2018

Justiça obriga usuária de drogas a fazer laqueadura.


  Dentro de uma sociedade que preza por concepções sadias de conduta, nada mais adequado e simbólico que restringirmos uma pessoa à sua liberdade plena diante de sua situação puerperal, ironia a parte, dentro dessa matéria podemos notar o quanto as tomadas de decisões jurídica, no Brasil, são efetivadas por contextos de extremas condutas discriminatórias. Na situação exibida, somos apresentados à história de vida de uma usuária de drogas, que dentro de sua situação de extrema vulnerabilidade social é obrigada pela justiça a fazer uma cirurgia de laqueadura, a qual impede a mesma de conceber e exercer o sua direito de ser mãe. Sabemos que sua situação necessita de analise, visto que não seria "adequado" uma criança nascer dentro de condições de extrema pobreza mas a decisão tomada é de imenso equívoco e violência e nos faz ponderar sobre os limites éticos os quais as deliberações jurídicas no Brasil devem respeitar. 

quarta-feira, 13 de junho de 2018

Expressão na Avenida Brasil

Sextas-feiras.

Vou para as atividades do projeto de extensão que participo para discutir escolhas com juventudes criminalizadas - no meu caso, um grupo de uma ONG na Nova Holanda, favela da Maré, localizada à altura da passarela 9 da Avenida Brasil.
O caminho de ida e volta é repleto delas, características de uma das maiores vias da cidade, nas quais mensagens estão sendo expostas incisivamente. Moro na altura da de número 3, por enquanto inócua.

Na ida, o protesto na 7: "VIDAS FAVELADAS IMPORTAM", junto de um desenho de traços simples - porém imediatamente reconhecíveis - de Marielle Franco.

Na volta, as causas ou as consequências de tal manifestação (estou quase certo de que não importa essa distinção, já que tudo diz respeito a algo muito mais estruturante que causal):
Passarela 8: "O QUE FAZER SE A PF PRENDE E O STF SOLTA?"
Passarela 4: "FORÇAS ARMADAS, SOCORRAM O BRASIL!"

Desço no ponto seguinte e só consigo me perguntar de quem, pra que e por quê... [e sentir vontade de subir nas passarelas e arrancar as duas últimas, é claro].

Racismo nos Jogos Jurídicos 2018


Tendo-se em vista o acontecimento que ocorreu durante os Jogos Jurídicos de 2018 que ocorreram no início deste mês, junho, em Petrópolis, em que um aluno, estudante da Universidade Católica de Petrópolis, foi atingido por uma casca de banana arremessada pela torcida da PUC após seu time vencer, cartazes que denunciavam o racismo foram espalhados no Centro Acadêmico da universidade pelos alunos da PUC- Rio. Entretanto, eles foram arrancados por outros alunos da própria instituição, o que acabou motivando um novo protesto contra o racismo pelos alunos.Vale lembrar que o arremesso da casca de banana em direção ao aluno em questão não foi o único episódio racista vivido durante os jogos, mas, de acordo com alunos da Universidade Estadual do Rio de Janeiro, estudantes da PUC também foram vistos fazendo barulhos e gestos com a finalidade de imitar um macaco para a torcida da UERJ. Os fatos resultaram na perda do título de campeã dos jogos deste ano, e também na proibição da participação da Atlética da universidade no próximo ano. De maneira geral, o caso nos faz pensar e lembrar de algumas discussões feitas em sala, dentre elas o quão vivo e mortificante o racismo ainda se faz na nossa sociedade e também no fato de isso não somente ter ocorrido em uma universidade de renome, mas também entre alunos do curso de Direito. Alunos estes que, após formados, irão se tornar advogados, juízes, desembargadores responsáveis por tomar decisões que, dependendo delas quais forem, irão ou não perpetuar aquilo que lutamos historicamente fortemente para mudar.

Mais sobre o caso pode ser visto em:
  • https://g1.globo.com/rj/rio-de-janeiro/noticia/equipe-da-puc-e-punida-apos-denuncias-de-racismo-em-jogos-juridicos.ghtml
  • https://www.causaoperaria.org.br/alunos-da-puc-rio-fazem-novo-protesto-contra-o-racismo/

terça-feira, 12 de junho de 2018

Porque Gabriela gosta da palavra puta


Como comentado pelo professor Pedro na aula em que o grupo gênero e sexualidade apresentou a trajetória de Gabriela Leite, importante ativista pelos direitos das mulheres que são prostitutas, nessa entrevista ela fala sobre o porquê de gostar da palavra puta.
Entrevista realizada em 2013 para os extras do documentário, "Um Beijo para Gabriela", um filme que conta a historia de sua campanha para deputada federal em 2010.

Entrevista que pode ser conferida em:
https://www.youtube.com/watch?v=CvKkGPiXv0o

Retrocesso em nome do "equilíbro"(?)

Segundo o governador Jon Rankin, esta é uma forma de dar "equilíbrio" ao jogo e dar voz a sociedade conservadora.

Joe Gibbons, de 64 anos, homem gay e um dos primeiros a legalizar sua união do país foi um dos prejudicados com a medida:”Eu me sinto enormemente desapontado”, comentou. “Isso não é igualdade e o governo britânico obviamente apenas disse: esta luta não é nossa”.

Link: http://poenaroda.com.br/bermudas-se-torna-1o-pais-do-mundo-a-proibir-casamento-gay-depois-de-permiti-lo/

As mães que celebram a expulsão de um menino autista da sala dos filhos

"'Ele tem síndrome de Asperger, é um doce. Está na quinta série dessa escola. As mães dos coleguinhas faziam greve (não levavam seus filhos supostamente até que não tirassem meu sobrinho da escola). Isso não aconteceu, mas colocaram meu sobrinho em outra sala. É um colégio supostamente religioso, e essa foi a reação das mães quando souberam.... é muito triste que falem assim de uma criança, e a verdade é que a escola deixa muito a desejar', escreveu Rosaura no Facebook."

Link da notícia: https://brasil.elpais.com/brasil/2017/09/04/actualidad/1504515216_199375.html?id_externo_rsoc=FB_CC

Feminicídio no Brasil

Feminicídio no Brasil é um web documentário que nasceu como trabalho de conclusão de curso de Jornalismo, Rádio e Televisão das alunas Catherine Debelak, Letícia Dias e Marina Garcia, da Faculdade Cásper Libero de São Paulo de São Paulo. Elas viajaram o Brasil coletando relatos de histórias de violência de gênero e entrevistas acerca do tema com profissionais de diversas áreas (psicólogas, delegadas, políticos, advogadas) nas cinco regiões do país. 


Link do canal no youtube com os vídeos do web doc:
https://www.youtube.com/channel/UCcbGAKCR8OHE6pDCIgAWxxQ

segunda-feira, 11 de junho de 2018

A criminalização da população negra e o aumento da população carcerária nos EUA


O documentário "A 13º Emenda" trata do processo histórico da criminalização da população negra nos EUA e o aumento dessa população no sistema no sistema prisional do país.
O documentário conta com entrevistas com ativistas, políticos, estudiosos, artistas e examina os estágios da construção histórica do preconceito e aponta como a visão racista contribuiu para associar os negros ao mundo do crime e, por consequência, acarretar o aprisionamento deles nas cadeias cada vez em maior quantidade através de um processo de encarceramento em massa. 
O título do documentário faz referência à 13º emenda da Constituição dos EUA, responsável por abolir formalmente a escravidão no país. Com isso a diretora busca mostrar o quanto o sistema presidiário de hoje se assemelha com a escravidão, pois segundo ela, a emenda declara que a escravidão e a servidão involuntária são ilegais, “exceto como castigo por um crime”.

Assistindo a esse documentário é impossível não enxergar algumas semelhanças com o que vivemos aqui no Brasil. 

Disponível na Netflix. 

Não ao oportunismo e à intervenção militar



Em uma reportagem de 2016, General Eduardo Villas Bôas, responde que ao ser questionado por fãs da ditadura militar que clamam sua volta, pois estaria nela todas as soluções para absolutamente todos os problemas do nosso país (desde segurança pública à corrupção) sua resposta geralmente é uma:

“Eu respondo com o artigo 142 da Constituição. Está tudo ali. Ponto”.

Esse artigo fala sobre o dever do corpo militar, assim dizendo que “as Forças Armadas, constituídas pela Marinha, pelo Exército e pela Aeronáutica, são instituições nacionais permanentes e regulares, organizadas com base na hierarquia e na disciplina, sob a autoridade suprema do Presidente da República, e destinam-se à defesa da Pátria, à garantia dos poderes constitucionais e, por iniciativa de qualquer destes, da lei e da ordem.”

O público, desencantado com a enchente de notícias sobre corrupção, lavagem de dinheiro, falta de segurança clama por soluções rápidas e simples, de uma forma heroica. E quem vem a mente quando se fala de heroísmo patriota? Os militares.

Estranho pensar como muitas vezes o mesmo público que sofreu com as mazelas desse regime, e portando estiveram presentes quando conscientemente evoluímos rumo a liberdade parecem ter uma amnésia coletiva.

Tal segmento da população até segue uma linha internacional de radicalismo, se concretizando com líderes da extrema direita ou líderes aparentemente representativos, com ''fala própria, sem filtro'', até mesmo líderes inéditos no cenário político, com uma carreira distante dos palanques até então.

Em relato publicado no Jornal do Brasil no último mês, o ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República, Sergio Etchegoyen, disse que intervenção militar “é um assunto do século passado”.

Apesar do cenário crítico, podemos encontrar conforto na ideia de evolução dialética de Hegel. Nela, não existiria fluidez nem menos o amadurecimento do ''espírito do mundo'' sem tese, antítese e síntese. Este, portanto, é o momento perfeito para conservar o que temos de comum e trabalharmos em conjunto em prol dos nossos direitos.

quarta-feira, 6 de junho de 2018

Evento- Achille Mbembe

Achille Mbembe tem nos alertado para um novo tipo de poder em constituição em todo o mundo. Para o estudioso camaronês, esse poder "é infinitamente mais brutal do que no período autoritário", tendo em vista que este não "pretende já domesticar as populações, enquanto tais. Se ainda mantém uma triagem apertada de corpos (...) não é tanto para os disciplinar como para deles extrair o máximo de utilidade e, por vezes, de fruição" (MBEMBE, 2017, p. 62). Há uma nova soberania em exercício, que consiste em "fabricar toda uma massa de gente habituada a viver no fio da navalha ou, ainda, à margem da vida - gente para quem viver é estar sempre a prestar contas à morte (...)" (MBEMBE, 2017, p. 64-65).
É para analisar esse novo tipo de poder e os seus efeitos para as populações de todo o mundo que dedicaremos dois dias em nosso curso "Diálogos com Achille Mbembe" a ocorrer no final desse mês de junho na PUC-Rio e na FND/UFRJ.

segunda-feira, 4 de junho de 2018

"Tricked" e "I Am Jane Doe"

Tricked e I Am Jane Doe são documentários - disponíveis na Netflix - sobre o tráfico local de mulheres norte-americanas. 

"Tricked" reune relatos de cafetões, clientes, agentes da lei e das vítimas do tráfico, proporcionando uma visão mais ampla do sistema de escravização sexual.
Um dos pontos abordados no filme que me chamou atenção foi a dificuldade que tais agentes encontram de conseguir prender os cafetões responsáveis pela comercialização das mulheres. Um dos agentes conta que muitos casos de tráfico demoram mais que um caso de homicídio a ser julgado, pois a vítima não é considerada uma testemunha confiável. Isso é reflexo da criminalização da prostituda, da imagem estigmatizada que a sociedade constrói dessas mulheres, retirando toda credibilidade de sua fala e de certo modo desumanizando-as.

"I Am Jane Doe" conta o caso de três meninas que foram traficadas e prostituídas online por anos. O documentário mostra a luta dessas três meninas e suas famílias contra o site Backpage. com - onde foram anunciadas e vendidas - em processos judiciais. 
Neste filme dois pontos interessantes foram abordados: como as vítimas são encontradas e quais são seus perfis ; e o papel da internet como facilitadora para casos de tráfico.