No dia 3/11 ao sair da faculdade me deparei com uma
viatura da polícia, em frente ao pinel. Por mais normal que aquela situação
parecesse, os próximos minutos mostraram algo igualmente “normal” porém com um
significado forte e já historicamente associado em nossa sociedade.
Os policiais pararam um ônibus, não qualquer ônibus,
mas o 474. Qualquer pessoa que ande de ônibus ou conheça um pouco sobre eles,
no rio de janeiro, já ouviu pelo menos algo como “não pega o 474”, “tenho medo
do 474”. Um ônibus que traz consigo um grande pavor para alguns, ou um meio de
chegar em seu destino para outros, já foi nos últimos anos alvo de diversas
blitz da polícia.
No tempo que me encontrei no ponto não tive como ver
se os policiais tiraram alguém do ônibus (prática no mínimo comum e peculiar em
blitz), contudo ao prosseguir no meu trajeto, e estar no último ponto antes de
entrar no Túnel Santa Bárbara, eis que vejo outra blizt da polícia com ninguém
menos do que outro 474 parado sendo revistado. Dessa vez pude ver quem foi
tirado do ônibus. E as pessoas não eram ninguém menos do que garotos...
novos... negros... sem blusa... e de chinelo.
Essa cena para qualquer morador do rio de janeiro
pode parecer normal, corriqueira, e alguns até diriam uma “medida necessária”,
mas ela representa de forma clara e lúcida os processos de criminalização e
essa imagem tão temida dos delinquentes. Não temos como saber se aqueles jovens
retirados cometeram algum delito naquele dia, mas podemos afirmar que a
seletividade policial nesses momentos é assustadora, ao ponto de pararem dois
(ou até mais) ônibus de uma linha de ônibus específica para retirar o mesmo
perfil de indivíduo.
Nesses momentos tem muito mais em jogo que a simples
“defesa social”. Tem a ver com a nossa história de criminalização, tem a ver
com o mesmo perfil que é tomado como perigoso e que deve ser encarcerado (para
muitos). Tem a ver com os processos de subjetividade que perpassam por esses
garotos, que em um momento se veem tomados como inimigos da sociedade, pessoas
que precisam ser temidas e que invariavelmente encontram seus direitos, como o
direito de ir e vir, sendo questionado. Garotos que precisam cuidar pra onde
andam, porque nenhum lugar parece pertencer a eles tirando atrás das grades.
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