quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Reportagem sobre caso de racismo


Notícia vergonhosa...
Para pensarmos os preconceitos e os processos de criminalização.

http://oglobo.globo.com/rio/familia-abre-campanha-no-facebook-para-acusar-concessionaria-de-preconceito-racial-7379006

RIO - “Essa loja não gosta de crianças, mãe?” A pergunta, feita por um menino negro de apenas 7 anos, comoveu os pais, Priscilla Celeste e Ronald Munk, que, atônitos, assistiram a um vendedor expulsar seu filho de dentro de uma concessionária BMW, na Barra. O vendedor “desavisado” não sabia que a criança era o filho do casal de cor branca, que entrara ali para comprar um carro maior para a família. Numa reação ao que consideraram um ato de racismo, os pais lançaram a campanha no Facebook “Preconceito racial não é mal entendido”, que em poucos dias conseguiu apoio de mais de dez mil internautas. Eles querem que a concessionária faça uma retratação pública e que se comprometa a criar procedimentos que possam evitar os “impulsos” de funcionários que ainda tenham o preconceito racial enraizado em suas reações.
O caso ocorreu no dia 12 passado, na concessionária Autokraft, na Barra, Zona Oeste do Rio. Pais de cinco filhos, eles foram à loja acompanhados do caçula, de 7 anos, que é adotado, em busca de um automóvel novo para família.
— Nós éramos clientes dessa loja, mas o vendedor que conhecemos não estava. Então veio esse gerente de vendas. Enquanto olhávamos um carro, nosso filho se sentou em uma poltrona e ficou vendo TV. Quando ele voltou para o lado do pai, o homem que nos atendia virou para a criança e disse: “você não pode ficar aqui dentro. Aqui não é lugar para você. Saia da loja”.
Segundo Priscilla, depois de ser chamado a atenção por Ronald, o vendedor ainda insistiu:
— Ele disse: “porque eles pedem dinheiro, incomodam os clientes. Tem que tirar esses meninos da loja.” Quando meu marido disse a ele que o menino negro era nosso filho, ele ficou completamente sem ação, gaguejando desculpas atrás de nós enquanto saíamos indignados da concessionária.
O casal ainda esperou que a empresa entrasse em contato com a família para se retratar, o que não ocorreu. Revoltados, enviaram uma reclamação ao Grupo BMW, no dia 16 passado, por e-mail. No mesmo dia, o grupo respondeu, lamentando o ocorrido e informando que solicitara esclarecimentos à concessionária Autokraft através de uma notificação entregue na mesma data.
Priscilla contou que a resposta da Autokrft veio sete dias depois do incidente. Em um novo e-mail, com o assunto “desculpas”, a empresa se diz ciente do ocorrido e afirma que o gerente da loja “entendeu que o casal não estava acompanhado por qualquer pessoa, incluindo a criança. E já que ela estava absolutamente desacompanhada na loja, o funcionário teria alertado o garoto de que ele não poderia ali permanecer e que tudo não passou de um mal-entendido”. A mensagem é finalizada com a seguinte frase: “Tenho imenso prazer em tê-lo sempre como cliente amigo”.
— Nossa ideia não é processar a empresa. Queremos, sim, uma retratação pública. Não foi um mal-entendido. Se fosse uma criança branca não teria sido confundida. Aliás, se eles tivessem olhado direito para meu filho, veria que não se tratava de uma criança de rua. Mas eles não olharam meu filho. Só viram a cor dele. E mesmo se fosse uma criança desacompanhada, o certo seria perguntar pelos responsáveis e não expulsar da loja — concluiu Priscilla, que é professora.
Em nota, a concessionária Autokraft volta a afirmar que de fato ocorreu um mal entendido. Eles afirmam que a empresa não compactua com nenhum tipo de comportamento discriminatório. Como exemplo, a nota cita o cargo de chefia da área de Recursos Humanos (responsável pela avaliação e contratação de pessoal), que seria ocupado por "uma mulher negra que trabalha conosco há 25 anos".
"Em todas as demais áreas da empresa, incluindo a de vendas, existem pessoas de todos os tons de cores de pele. Nenhum tipo de preconceito é tolerado e, portanto, o racismo definitivamente não existe numa empresa que, em toda a sua história (mais de 40 anos), sempre conviveu com a diversidade", diz trecho da nota.
Leia a íntegra da nota:
"Para esclarecimento de todos, sobre o fato divulgado na imprensa a respeito de um suposto ato de racismo, referente a uma criança negra, que estava aparentemente desacompanhada no salão de vendas de nossa concessionária, informamos que o ocorrido foi o seguinte:
"A criança foi abordada pelo gerente de vendas, que lhe disse que não poderia ficar sozinha no salão.
"Após essa abordagem, a criança se encaminhou para os seus pais, brancos, que se dirigiram ao gerente pedindo esclarecimentos e o mesmo, ao se explicar dando o exemplo de que, por vezes, crianças desacompanhadas entram na loja para vender coisas, foi mal entendido pelos pais, que acharam que o gerente estava querendo dizer que a criança, por ser negra, teria sido confundida com uma criança de rua ou vendedora de balas.
"O gerente de vendas, que absolutamente não é racista, está extremamente abalado com a repercussão do que, em momento algum, foi uma atitude racista ou discriminatória.
"Ficamos ainda mais tristes ao ver que, de alguma maneira, querem dar a entender que a empresa compactua com algum tipo de comportamento discriminatório.
"Nossa empresa tem em cargo de chefia do RH, área responsável pela avaliação e contratação de pessoal, por exemplo, uma mulher negra que trabalha conosco há 25 anos.
"Em todas as demais áreas da empresa, incluindo a de vendas, existem pessoas de todos os tons de cores de pele. Nenhum tipo de preconceito é tolerado e, portanto, o racismo definitivamente não existe numa empresa que, em toda a sua história (mais de 40 anos), sempre conviveu com a diversidade.
"Lamentamos que o entendimento e interpretação dos pais tenha sido no sentido de um ato de racismo, como foi por eles exposto e divulgado.
"Estamos à disposição dos pais, como sempre estivemos, para atendê-los e dialogar, para que nos conheçam melhor e compreendam que o ocorrido não foi um ato de racismo, e acreditem que, de fato, ocorreu um mal-entendido.
"Viva a diversidade!
Autokraft"


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Um comentário:

  1. Luiza, muitas vezes ri para não chorar lendo essa matéria. Retrata muito bem essa cadeia sem fim que não permite escapatória nem diferença. É o negro associado ao pobre e o pobre associado à escória e ao indesejável, mas cuja existência é ao mesmo tempo necessária.... ali, lá longe mas também perto, provendo mão de obra barata e lucro massivo, e por simples existência e oposição - tornando os ricos - ricos. Mais que um problema de cor, é um problema quantitativo de dinheiro.
    É o preconceito nosso - atualizado - de cada dia, que guardamos em um cantinho escuro e recôncavo na esperança de que ninguém veja (mas que as vezes pula), em vez de colocá-lo a luz e discutí-lo, fingimos com todo prazer e pelo bem do politicamente (in)correto que ele não existe.

    Esse tema tem chegado a mim de forma muito intensa aqui na Europa, não apenas através do clássico problema com imigrantes e (não) mix de culturas - que de certo modo me deixa extremamente orgulhosa de ser brasileira, mas pelas cores. Repetidas vezes escutei comentário como: Ela é muito morena para ser sueca, ou é esquisito como o cabelo dela é escuro para alguém daqui não?
    Não se trata mais da clássica xenofobia, de alguém afastado da cultura, mas que nasceu ali dentro e esta perfeitamente “adaptado” e faz parte da cultura e costumes do local pois seus pais são locais (ou pelo menos parte deles). Faltam desculpas e sobram extranhezas.
    Enquanto ouvia o relato de uma holandesa de tez levemente morena sobre sua frustração e raiva frente a incapacidade de seus compatriotas de a reconhecerem como tal, devido ao seu tom de pele - mesmo que pelo resto fosse claramente uma nativa, me perguntava.... Como isto ainda se constitui como uma pergunta que faz qualquer tipo de sentido? Simplesmente não deveria ser uma questão.
    Saí dessa discussão feliz, pensando em como era lindo que qualquer um pudesse ser Brasileiro, pois somos por excelência um mix. Não negando que exista preconceito, de modo algum! Mas pontuando que somos multicor - e com orgulho.... Nisso estava eu até que parada em um “carnaval” de rua sou surpreendida pelo comentário de uma outra brasileira que passava e que teve a audácia de me negar a nacionalidade, uma vez que sou demasiadamente branca, e não tenho cara de brasileira...
    A faca corta em todas as direções, acredito, e devido a isso ha que tomar muito cuidado. Pois o preconceito vai se esquivando por muitos caminhos e tomando muitas formas. Afinal, de quem tem cara o Brasileiro?

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