quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

Esclarecendo alguns pontos da apresentação

Como percebi que algumas (na verdade muitas pessoas) ficaram incomodadas quando citei partes do pensamente butleriano sobre a naturalidade da heterossexualidade, vim para esclarecer:

Quando disse, baseada na filosofia crítica de Butler, que a heterossexualidade não é natural, eu estava querendo fazer vocês pensarem tal qual a autora, criticamente. Ora, se a heterossexualidade é construída  pelo discurso e através do discurso, pelo menos nos moldes atuais, ela jamais poderia ser natural. Entendem? Percebem que, a construção de qualquer identidade sempre será atravessada pelo discurso construído e reiterado historicamente e socialmente e necessariamente estará sempre em construção uma vez que estamos dentro de um sistema social continuum. É complicado? Sim, eu sei. 

Para Butler, a performatividade baseia-se na reiteração de normas que são anteriores ao agente, e que sendo permanentemente reiteradas, materializam aquilo que nomeiam. A partir disso, temos simplesmente o gênero imitando um ideal de gênero. Assim, precisamos nos ater para o essencialismo que envolve a própria heterossexualidade compulsória, pelo menos em sua forma discursiva, pois quando pensamos por exemplo: "mulheres tem útero", estamos nos colocando numa posição tal qual a dos animais. Poderíamos, a partir desse discurso, intuir que as mulheres são tão iguais a dragões de comodo, pelo menos pelo aspecto animal ou reprodutor da coisa. Percebem?! Ninguém se relaciona apenas com intuito reprodutor, do mesmo modo que há mulheres que mesmo com útero não podem parir.

Para entender o conceito de performatividade primeiro é preciso desassociá-lo da ideia voluntarista de representar um “papel de gênero”, construindo para si um corpo que expresse e marque uma condição de escolha do sujeito que adota uma identidade. A performatividade se insere na reiteração de normas. “Seria um erro reduzir a performatividade à manifestação do gênero”.  Como disse acima, ela consiste numa reiteração de normas que são anteriores ao ator, e que sendo permanentemente reiteradas, materializa aquilo
que nomeia. Assim são as normas reguladoras do sexo. São performativas no sentido de que reiteram práticas já reguladas, normas ou um conjunto delas, materializadas nos corpos, marcadas no sexo, exigindo práticas mediante as quais se produz uma “generificação”. Não se trata, portanto de uma escolha, mas de uma coibição, ainda que esta não se faça sentir como tal. Daí seu efeito naturalizado, a-histórico, que faz
desse conjunto de imposições algo natural.

Caso tenham interesse, podem ler um livro que compila as ideias de Butler, chama-se "Judith Butler e a Teoria Queer" de Sara Salih. É bem gostoso de ler e bem didático neste sentido. 

É por esse e por outros motivos que a discussão de gênero me interessa tanto, espero que compreendam isso e não se incomodem mais com as minhas colocações em aula. Porque diferente de vocês psicólogos, não tenho nenhum interesse em aplicar testes ou apenas fazer isso, isso limita o trabalho de qualquer um, nesse sentido acho a filosofia mais interessante!!! 

Aproveito a oportunidade para convidar, a todos que tenham interesse, participar de um grupo de estudos que acontecerá no IFCS, este encontro reunirá pesquisadores, ativistas e estudantes. Discutiremos Transexualidade.
Segue o link para maiores informações: http://www.pr5.ufrj.br/diversidade/index.php/2-uncategorised/51-grupo-de-estudos-sobre-identidades-trans

Beijo grande!!!

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