quarta-feira, 21 de setembro de 2016

Os pobres vão à praia

Episódio da série "Documento Especial: Televisão Verdade", exibida na antiga rede Manchete, o documentário "Os pobres vão à praia" de 1989 evidencia, por meio de cenas de preconceito explícito, os conflitos de classe, o racismo e a segregação na sociedade carioca.

Hoje, mais de 20 anos depois, pouca coisa mudou. Semana passada (15/09), mais de 100 jovens passaram por averiguação policial nas ruas de Copacabana.1 A notícia veiculada na plataforma virtual do jornal O Globo afirma que “apesar dos relatos de assalto, nada foi encontrado com eles”. Em agosto do ano passado, a PM abordou um ônibus a caminho da Zona Sul, impedindo o acesso de um grupo de adolescentes à praia e encaminhando-os arbitrariamente para o Centro Integrado de Atendimento à Criança e ao Adolescente (Ciaca).2 A ação foi apoiada pelo governador Pezão, que disse que seu objetivo foi impedir a ocorrência de crimes nas praias.3

Essas notícias, assim como o documentário, demonstram o processo de criminalização que recai sobre a juventude negra, pobre e periférica do Rio de Janeiro, e como ele está intimamente ligado a incriminação sofrida por esse grupo. Do mesmo modo, nos ajuda a pensar sobre a figura do delinquente, como aquele que não cometeu o crime, mas é lido como se estivesse propenso a fazê-lo. Além disso, podemos refletir também sobre o direito à cidade que é negado aos jovens nessas situações, o espaço proibido que a praia, teoricamente pública, se torna, não só pela ação policial, mas também pela discriminação e por políticas como a reestruturação de linhas de ônibus, que dificultou o acesso as praias.4







3 comentários:

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  2. Vou assistir esse documentário, esses episódios têm me afetado seriamente! Você coloca aspectos importantes dessa discussão, como a questão do racismo, criminalização e direito a cidade. São jovens entendidos como perigosos uma vez que portadores de características como cor da pele, idade, território onde nasceu e mora. Isso tem efeitos fortíssimos na forma da atuação da polícia, na produção de ódio a esses jovens, e no consequente extermínio desses jovens, seja em mortes com índices altíssimos, seja nos encarceramentos nas unidades lá do DEGASE. Costumo provocar que esses jovens estão privados de suas liberdades mesmo antes de adentrarem os muros das instituições de internação, e as fronteiras desses vídeos, ou os hiatos, como no documentário que assistimos na aula, tornam isso bastante visível!

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