terça-feira, 27 de setembro de 2016

A carne mais barata do mercado

Hoje (27/09/2016) a 4º Câmara Criminal do Tribunal de Justiça de São Paulo anulou o julgamento dos 74 policias militares condenados pelo Massacre do Carandiru. Os policiais foram julgados em cinco tribunais de juris diferentes, entre 2013 e 2014, e foram condenados em todos à penas que variavam de 48 a 624 anos de reclusão. O desembargador Ivan Sartori votou, inclusive, pela absolvição dos 74 policiais condenados. ¹
O Massacre do Carandiru ocorreu em 2 de outubro de 1992 quando 341 policiais militares neutralizaram uma rebelião em vinte minutos deixando como saldo 111 presos mortos. O IML revelou que 102 detentos foram mortos com tiros, apesar de nenhum detento portar arma de fogo. O massacre ficou conhecido como a ação mais violenta da história dentro de uma penitenciária brasileira. ²

Quase 24 anos após o massacre, os policiais indiciados respondem em liberdade e a justiça tarda. Apesar de ser evidente o desrespeito aos direitos humanos, há quem defenda esses policiais. O advogado Celso Vendramini, por exemplo, disse que "Aqueles homens, que deveriam ser homenageados por ter tido a coragem de entrar lá, estão sentados no banco dos réus"³. Essa fala evidencia uma prática que colabora para a impunidade da polícia. Práticas como a cultura da vingança (em que os acusados agem em nome da vingança da sociedade), da baixa eficiência no combate aos homicídios e do arquivamento de 99,2% dos processos sem investigação explicam essa impunidade.4
Nesse caminho, o genocídio da população pobre segue indiscriminado e a carne mais barata do mercado permanece sendo a carne negra.


¹: http://g1.globo.com/sao-paulo/noticia/2016/09/tj-anula-juris-que-condenaram-pms-pelo-massacre-do-carandiru.html
²: http://www.massacrecarandiru.org.br/
³: http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2014/04/1434742-pms-deveriam-ser-homenageados-diz-defesa-no-juri-do-carandiru.shtml
4:  http://www.pragmatismopolitico.com.br/2015/03/a-impunidade-da-policia-que-mata.html 

Um comentário:

  1. A reportagem me faz pensar que a impunidade policial é efeito, primeiro (mas não exclusivamente), do direito de matar destes agentes do Estado. Lembrando dos autos de resistência e toda a discussão em torno da questão. Quais os limites que estabelecem o uso da força, da violência, os quais podem ser julgados como legítimo? Parece que depende quem é a vítima e que é o algoz da história. É... direitos humanos só mesmo para "humanos direitos".

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