sábado, 2 de julho de 2016

Vulnerabilidade dos corpos femininos

 Jovem é encontrada morta com dez tiros nas partes intimas, dez, mas ainda sim o sub-título da notícia ressalta que não foram encontrados sinais de violência sexual. Dez tiros na vagina não são considerados violência sexual. Essa notícia ( http://noticias.r7.com/rio-de-janeiro/fotos/gravida-de-15-anos-e-assassinada-com-mais-de-10-tiros-nas-partes-intimas-29062016#!/foto/1 ) divulga o caso de uma jovem que foi brutalmente assassinada, teve seu corpo violado, e ainda sim o que é produzido a partir dessa notícia, desconexa e menos que medíocre, é a ideia de que esse corpo não foi violado: "Segundo a DHBF (Divisão de Homicídios da Baixada Fluminense), o corpo não tinha indício de violência sexual ou hematomas de agressões anteriores aos tiros". Sua roupa intacta é ressaltada como se isso preservasse de alguma forma esse corpo, como se o crime fosse menos brutal. Essa foi uma chamada das muitas que eu encontro no meu feed todos os dias de crimes que violam o corpo da mulher, que violentam, que são cometidos por atuais ou ex companheiros, reproduzindo a noção de que esse corpo tem um dono, e de que ele é passivo a punições. Notícias que diminuem a moral dessas mulheres, seja pelos espaços que elas frequentam, roupas que elas usam, pessoas com quem se envolvem, gosto musical ou uso de drogas, mas o fazem como que para colocar nessa mulher a culpa por esse ato, por ter se colocado disponível demais a espaços e escolhas que não deveriam ser dela. Duvidamos das mulheres e procuramos desculpas para os homens, até mesmo no restante das legendas dessa notícia, o autor estabeleceu uma disputa entre os supostos homens envolvidos na vida dela como mais ou menos passíveis de cometer esse crime, um ex namorado militar, de quem ela estaria grávida, com quem ela teve um relacionamento inconstante, e um traficante com quem ela supostamente se envolveu no passado e que saiu da prisão recentemente. Fica claro  na descrição do indivíduos quem tem o perfil entendido como mais ou menos passível de cometer tal crime.
É importante lembrar que as impressões que produzimos sobre as mulheres na nossa sociedade não estão fora do sistema judiciário. Os sujeitos que produzimos na nossa sociedade que entendem as mulheres como propriedade, com corpos passíveis de punição, como culpadas e duvidosas são os mesmos sujeitos que estão dentro dos nossos sistemas, e são reforçados por essa sociedade patriarcal e misógina, mantendo e legitimando um sistema de opressões cruel e estrutural. O que, ironicamente, é exatamente o que pode ser visto na segunda notícia que meu feed me mostrou hoje http://extra.globo.com/casos-de-policia/sargento-do-exercito-que-agrediu-esposa-recebe-apoio-de-amigos-familiares-so-voces-sabem-que-aconteceu-19615580.html 

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