'Ciência lixo'?
A polêmica causada por software experimental
que 'identifica rostos gays'
A polêmica causada por software experimental
que 'identifica rostos gays'
Grupos LGBT criticaram duramente experimento de prestigiosa universidade
dos EUA, que criou algoritmo que acertou reconhecimento de homossexuais
e heterossexuais em fotos em 81% das vezes.
Por
BBC
13/09/2017 09h35 Atualizado 13/09/2017
09h35
O estudo criou modelos de rostos que teriam
probabilidade maior e menor de pertencer a homossexuais
(Foto: Universidade de Stanford)
(Foto: Universidade de Stanford)
Um experimento
com um software de reconhecimento facial
que diz ser capaz de diferenciar pessoas homossexuais e heterossexuais
causou polêmica após desencadear duras críticas de grupos de direitos LGBT.
que diz ser capaz de diferenciar pessoas homossexuais e heterossexuais
causou polêmica após desencadear duras críticas de grupos de direitos LGBT.
O estudo, da Universidade de
Stanford, nos Estados Unidos,
afirma que seu software reconhece características faciais relacionadas
afirma que seu software reconhece características faciais relacionadas
à orientação
sexual que não são percebidas por observadores humanos.
O trabalho foi
acusado de ser "perigoso" e uma forma de "ciência lixo".
Mas os
cientistas envolvidos, que buscam, a exemplo de outros estudos recentes,
ligar traços ou feições a características de personalidade, disseram que estas
reações foram "impulsivas".
ligar traços ou feições a características de personalidade, disseram que estas
reações foram "impulsivas".
Detalhes do
projeto devem ser publicados em breve
no Journal of Personality and Social Psychology.
no Journal of Personality and Social Psychology.
Maxilas estreitas
Para o estudo,
os pesquisadores treinaram um algoritmo usando fotos
de mais de 14 mil americanos brancos, tiradas de um site de relacionamentos.
de mais de 14 mil americanos brancos, tiradas de um site de relacionamentos.
Os cientistas
usaram de uma a cinco fotos de cada pessoa e levaram em conta
a sexualidade declara por elas no site.
a sexualidade declara por elas no site.
Os
pesquisadores disseram que o software desenvolvido foi capaz de
distinguir homossexuais e heterossexuais.
distinguir homossexuais e heterossexuais.
Quando o
algoritmo foi apresentado a duas fotos -
uma definitivamente de um homossexual e outra de um heterossexual -,
ele foi capaz de acertar em 81% das vezes.
uma definitivamente de um homossexual e outra de um heterossexual -,
ele foi capaz de acertar em 81% das vezes.
Com as
mulheres, o número foi de 71%.
"Os rostos homossexuais
tenderam a ter menos marcas de gênero",
disseram os pesquisadores.
disseram os pesquisadores.
"Os homens
gays tinham maxilas mais estreitas e narizes
maiores, enquanto
as lésbicas tinham mandíbulas maiores".
Mas o software
também falhou em outras situações, como em um teste
com fotos de 70 homens gays e de 930 homens heterossexuais.
com fotos de 70 homens gays e de 930 homens heterossexuais.
Quando
solicitado a apontar cem homens com "maior probabilidade de ser gay",
a ferramenta errou em 23 deles.
a ferramenta errou em 23 deles.
Em seu resumo do estudo, a
revista britânica The Economist -
que foi o primeiro veículo de imprensa a revelar a pesquisa - apontou para várias
que foi o primeiro veículo de imprensa a revelar a pesquisa - apontou para várias
"limitações" do
experimento, incluindo uma concentração em fotos de americanos
brancos e o uso de
imagens de sites de relacionamento, que "provavelmente
seriam particularmente reveladores da orientação sexual" .
seriam particularmente reveladores da orientação sexual" .
'Descobertas imprudentes'
Na sexta-feira,
dois grupos LGBT com sede nos EUA emitiram um comunicado
de imprensa conjunto que criticava duramente o estudo.
de imprensa conjunto que criticava duramente o estudo.
"Esta
pesquisa não é ciência ou novidade, mas é uma descrição
de padrões de beleza em sites de namoro que ignora grandes
segmentos da comunidade LGBTQ (lésbicas, gays, bissexuais,
transgêneros e queer), incluindo pessoas de cor, pessoas transgêneras,
indivíduos mais velhos e outras pessoas LGBTQ que não querem
publicar fotos em sites de namoro ", disse Jim Halloran,
diretor digital da Glaad, uma organização que monitora a mídia em
assuntos relacionados ao público LGBT.
de padrões de beleza em sites de namoro que ignora grandes
segmentos da comunidade LGBTQ (lésbicas, gays, bissexuais,
transgêneros e queer), incluindo pessoas de cor, pessoas transgêneras,
indivíduos mais velhos e outras pessoas LGBTQ que não querem
publicar fotos em sites de namoro ", disse Jim Halloran,
diretor digital da Glaad, uma organização que monitora a mídia em
assuntos relacionados ao público LGBT.
"Essas descobertas imprudentes
poderiam servir como uma arma para
prejudicar
tanto os heterossexuais cujas sexualidades poderiam ser
definidas erroneamente,
como também as pessoas gays e lésbicas que estão em situações em que isto
é perigoso."
como também as pessoas gays e lésbicas que estão em situações em que isto
é perigoso."
A organização Human Rights
Campaign (HRC) acrescentou que advertiu
a universidade
sobre suas preocupações há alguns meses.
"Stanford deve
distanciar-se de tal ciência lixo, em vez de emprestar seu nome
e credibilidade à pesquisa
que é perigosamente falha e deixa o mundo - e neste caso,
as vidas de milhões de
pessoas - pior e menos seguro do que antes", disse o diretor
de pesquisa da
entidade, Ashland Johnson.
Os dois pesquisadores
envolvidos - os professores Michael Kosinski e Yilun Wang -
responderam
dizendo que seus críticos estão realizando um "julgamento prematuro".
"Nossas descobertas
podem estar erradas ... no entanto, os resultados científicos
só podem ser desconsiderados
por dados e replicações científicas, não por advogados
bem-intencionados
e funcionários de comunicação que não possuem formação científica",
escreveram.
"No entanto, se nossos
resultados estiverem corretos, a refutação impulsiva pela
Glaad e HRC dos
resultados científicos coloca em risco as pessoas que suas
organizações se
esforçam para defender".
'Trate com cautela'
Pesquisas anteriores que
tentaram estabelecer uma relação entre traços faciais a traços
de personalidade
empacaram quando estudos complementares não conseguiram replicar
seus resultados. Isso
ocorreu, por exemplo, em um estudo que afirmava que um determinado
formato de rosto podia ser
vinculado a agressividade.
Um especialista independente
disse à BBC preocupar-se com a afirmação de que o software
desenvolvido no estudo
de Stanford buscaria traços "sutis" moldados por hormônios
durante a vida
uterina.
"Essas diferenças
'sutis' podem ser uma consequência de formas sistematicamente
diferentes pelas quais
pessoas gays e heterossexuais optam retratar-se, em vez de diferenças
na própria aparência
facial", disse o professor Benedict Jones, que administra
o Laboratório
de Pesquisa de Rostos da Universidade de Glasgow, na Escócia.
Jones apontou também para
importância da divulgação de detalhes técnicos do algoritmo,
que poderia dar
material para críticas informadas sobre o experimento.
"Novas descobertas precisam ser tratadas com
cautela até que a comunidade científica em geral -
e o público - tenha tido a oportunidade de avaliar e digerir seus pontos
fortes e fracos", diz o professor.
Posições políticas
Enquanto isso, um dos
criadores da ferramenta que relaciona o formato do rosto à sexualidade,
Michael Kosinski, vem
defendendo os potenciais do reconhecimento facial no diagnóstico
e
previsão de personalidades.
Em entrevista publicada no
jornal britânico "The Guardian" na terça-feira, o pesquisador
afirmou estar estudando as
ligações entre características faciais e posição política,
com resultados preliminares
indicando que a inteligência artificial é eficaz
na descoberta
da ideologia de uma pessoa com base no formato de seu rosto.
Segundo Kosinski, isto
poderia ser possível por que as visões políticas são razoavelmente
hereditárias,
resultando em diferenças faciais detectáveis.
O professor defendeu ainda
que, além da posição política, a inteligência artificial poderia
detectar desde predisposição
a comportamentos perigosos à uma inteligência fora do comum,
entre
outras características.
"O rosto é uma
representação observável de uma ampla gama de fatores, como sua história
de vida, seus fatores de
desenvolvimento ou se você está saudável", disse Kosinski ao Guardian.
Fonte G1: https://g1.globo.com/ciencia-e-saude/noticia/ciencia-lixo-a-polemica-causada-por-software-experimental-que-identifica-rostos-gays.ghtml
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